2 de mai. de 2011

China, 32 anos depois

Luiz Carlos Bresser-Pereira na Folha de S.Paulo, via centro Celso Furtado
Povo nenhum viveu período de  progresso tão acelerado; 600 milhões deixaram a pobreza
De volta à China, 32 anos depois da minha primeira e única visita, pude ver em
Pequim o incrível progresso que houve aqui.
Nenhum país passou antes por um período de progresso tão acelerado: em média,
seu PIB cresceu cerca de 9% ao ano, e cerca de 600 milhões de chineses já
saíram da pobreza. Qual o segredo desse "milagre" duradouro?
No plano político, foi a força do nacionalismo em um tempo neoliberal em que
todo nacionalismo econômico estava "condenado"; no plano econômico, foi a
abertura da conta comercial enquanto se mantinha fechada a conta financeira, foi
a liberação do fluxo de mercadorias, mas mantendo o fluxo de capitais sob
severo controle.
Na China, não existe complexo de inferioridade colonial. Os intelectuais chineses
que encontro em seminários internacionais sempre me impressionam porque, ao
invés de olhar os EUA como nós, latino-americanos, de maneira agressiva ou
então subordinada, os olham amavelmente, mas como iguais.

Não passa pela cabeça dos chineses "reconhecer" a superioridade intelectual do
"Ocidente", e, a partir daí, aceitar suas recomendações de política econômica -
recomendações que nós aceitamos, e que estão transformando o Brasil em uma
grande fazenda.
A China foi, no passado, um grande império; depois que a Europa se
industrializou, sofreu 100 anos de decadência econômica sob o jugo do Ocidente,
porém, desde 1949, desenvolveu-se de maneira independente: primeiro, como
sempre acontece nos países retardatários, com base no Estado, e, a partir de 1980,
com base no mercado.O segundo segredo da China é ter aberto a conta de mercadorias, enquanto
rejeitava a abertura financeira.
O velho desenvolvimentismo defendia a proteção alfandegária que é útil na fase
inicial do desenvolvimento, mas, como a China cedo compreendeu, o que
interessa é competir com os países ricos na exportação de bens industriais,
aproveitando-se de sua mão de obra mais barata.
Mas os chineses não querem saber de abertura financeira. Embora não esteja
claro para eles que, nos países em desenvolvimento, há uma tendência cíclica à
sobreapreciação da taxa de câmbio, sabem que mantê-la competitiva é essencial.
Porque, para aumentar a taxa de investimento e de poupança interna, é
fundamental que existam boas oportunidades de investimentos lucrativos para as
empresas -e, para isso, a principal condição é uma taxa de câmbio equilibrada.
Para eles a abertura financeira não é uma fatalidade, algo para o qual "não há
alternativa", como é para nós. É claro que é possível controlar as entradas de
capital e manter a taxa de câmbio competitiva.
Eu sabia da força da nação chinesa, mas, desta vez, foi fascinante ver os milhares
de chineses que todos dias enchem a praça Tiananmen para ver o corpo
embalsamado do líder de sua revolução nacional, Mao Tse-Tung. Há 32 anos,
não era assim; eles não tinham dinheiro para fazer esse turismo cívico que, para
nós, é estranho.
Não há, porém, nada de estranho na capacidade da China de competir com o
resto do mundo. Terá o Brasil capacidade de reagir e também, competir? Ou
vamos nos conformar em ser um país agropecuário moderno que cresce, mas
com instabilidade e a taxas muito menores do que as chinesas?

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