O sangrento passado colonial britânico volta e meia vem à tona, numa era em que o país se proclama um baluarte dos direitos humanos – pois é em nome deles, e de defender dissidentes civis na Líbia, que o Reino Unido participa dos bombardeios às forças do ditador Muamar Kadafi.
O período colonial, no qual boa parte da população acreditava piamente que o país exercia papel civilizatório, é eivado de barbárie, e ela acaba de emergir em um processo na Justiça britânica. Por iniciativa de 4 sobreviventes, entre os milhares de cidadãos do Quênia que sofreram toda sorte de abusos das autoridades britânicas na ex-colônia africana por integrarem, serem simpatizantes ou suspeitos de auxiliarem nos anos 50 e 60 o movimento independentista Mau Mau, liderado por aquele que seria o futuro presidente do Quênia independente, Jomo Kenyatta (1964-1978).
Ndiku Mutua, 79 anos, Wambugu Wa Nyingi, 83, Paulo Nzili, 84 e Jane Muthoni, 72, diferentemente do que ocorre com vítimas de violências por parte do Estado em outros países, não querem dinheiro – nem 1 centavo – para si.
Exigem, na Justiça britânica, num processo que corre desde 2009, apenas que o governo de Sua Majestade se desculpe formalmente pelos crimes e violências cometidos nos anos 50 e 60 no Quênia e institua um fundo de ajuda para os sobreviventes. Dias atrás, eles viajaram a Londres para depor.
Desde o governo trabalhista de Tony Blair e Gordon Brown, passando, agora, pelo do conservador David Cameron, Londres se exime de qualquer responsabilidade por aqueles atos que, no processo de independência do Quênia, em 1963, teriam sido assumidos pelo novo governo do novo país.
Mas os quenianos não se esquecem de que naquele período colonial houve mais de 100 campos de detenção para suspeitos, nos quais se praticavam tortura em massa e execuções sumárias, nem de que centenas de pequenos povoados foram cercados com arame farpado para, supostamente, “protegê-los” dos Mau Mau – guerrilheiros, por sua vez, conhecidos por sua extrema brutalidade, cujo terrorismo indiscriminado tinha como maraca cortar a cabeça de fazendeiros brancos e seus empregados e dependurá-las em postes.
O processo se baseia em documentos sobre o ex-Império Britânico que se julgavam desaparecidos mas foram localizados numa mansão campestre pertencente ao Foreign Office, o Ministério do Exterior britânico.
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