23 de mai. de 2011

Genro:"Os ataques contra o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Pallocci, são ações legítimas da oposição"



GUSTAVO AZEVEDO 
MAURICIO TONETTO nO terrA
Direto de Porto Alegre
Pronto para embarcar para Brasília, onde se reúne na manhã desta segunda-feira com outros líderes estaduais do PT, o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, apontou, em entrevista exclusiva para o Terra, que os ataques contra o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Pallocci, são ações legítimas da oposição. "Eles têm que fazer esse tipo de fiscalização, mas entre ser uma ação política legítima para cobrar do ministro do governo algum tipo de informação e atribuir veracidade a elas, há uma distância muito grande", ponderou.
Na pauta do encontro, temas como reforma tributária e guerra fiscal deverão perder espaço para a primeira crise do governo Dilma. Para o ex-ministro da Educação e da Justiça e presidente do partido no momento mais obscuro de sua história, durante a crise do mensalão em 2005, o caso Palocci deve ser tratado e decidido por Dilma. Sem "a mínima simpatia" pelas ações de Delúbio Soares, Genro considera a volta do ex-tesoureiro ao PT como "inevitável".
O governador afirmou também que a crise da oposição é "ruim para a democracia" e classificou a postura política do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o caso Cesare Battisti de "completamente equivocada". Enfrentando dificuldades para equilibrar o caixa gaúcho, Genro prepara um pacotão de medidas, sendo algumas impopulares, como a taxa de inspeção veicular, para tentar manter o ritmo da sua escalada política. Com o controle da legenda no Sul, ele busca mais espaço nacionalmente, mas é realista, apesar de sonhar com a Presidência. "Tenho 64 anos e devo pensar nos próximos 8 ou 12 anos. A realidade do PT hoje está centrada em dois nomes: Lula e Dilma".
Acompanhe abaixo os principais trechos da entrevista:
Terra - O caso Palocci será discutido no encontro desta segunda-feira? O governo está tratando bem este assunto?
Tarso Genro
 - Se for discutido, eu vou propor que se aguarde a orientação e as informações que vêm da própria presidente Dilma, que controla de maneira rigorosa o assunto. Eu não sei qual é a real acusação contra o Palocci e nem os dados das suas declarações de Imposto de Renda e fiscais.
Terra - Você considera este caso uma crise ou uma marola?
Tarso
 - Em princípio, é uma ação política da oposição e legítima inclusive. A oposição tem que fazer esse tipo de fiscalização. Mas entre ser uma ação política para cobrar do governo algum tipo de informação e atribuir veracidade a elas, há uma distância muito grande.
Terra - Em 2005, na época do escândalo do mensalão, você falou que era necessário refundar o PT. Qual é a sua posição a respeito da volta do Delúbio Soares ao partido?

Tarso
 - Inevitável. Ele foi expulso há 5 anos e não teve julgamento ainda. Embora eu não tenha nenhuma simpatia, diria até a mínima simpatia pelas posições que ele assumiu, o fato é que a sua não-aceitação de volta ao PT seria decretar sua morte civil e isso não existe mais nas democracias. Acho que ele tinha o direito de voltar. A minha corrente se absteve.
Terra - Como o senhor avalia a atual crise da oposição? Há uma total falta de sintonia entre partidos como PSDB e DEM?
Tarso
 - Eu acho muito ruim para a democracia, mas o que está ocorrendo com o DEM e o PSDB não é diferente do que acontece com o PMDB. Há uma dificuldade dos partidos de criar uma identidade política. O que falta no País é um centro democrático, estável e forte, com um projeto de nação, que nenhuma destas legendas preencheu de maneira coerente. O PSDB e o DEM não conseguem definir uma personalidade política, por isso as crises. O PMDB também não definiu, mas devido à sua atuação histórica e capacidade de resistência contra a Ditadura Militar ainda tem um acúmulo de prestígio.
Terra - Enquanto ministro da Justiça, o senhor concedeu status de refugiado político a Cesare Battisti. Hoje, fora do ministério, como avalia a prisão dele?
Tarso
 - Eu tenho muito respeito pelo STF e todos seus ministros, mas isso não me impede de dizer que temos divergências. O STF violou flagrantemente a lei ao emitir uma decisão que não poderia ter emitido, pois as normas que estipulam o refúgio são absolutamente claras. Quando se concede um refúgio em nome da Presidência, que depois se confirmou, o processo de extradição é interrompido. Foi uma decisão completamente equivocada. O Supremo deveria ter libertado o Battisti.
Terra - O senhor não teme ter seu nome vinculado no futuro a Battisti caso ele venha a ser condenado pelos supostos crimes cometidos?
Tarso
 - Absolutamente nenhum. O caso, por ser nebuloso, dá sustentação ao refúgio. Quando existe uma dúvida e o delito é político ou comum, ela favorece o réu e gera a convicção de que não poderia ser aplicada a legislação dos criminosos comuns. As acusações que lhe são atribuídas não estão provadas, pois eu estudei os processos. Qualquer tribunal não condenaria ele por falta de provas. O Battisti veio de uma família comunista e era um jovem border line entre a delinquência e a desinclusão social, vinculado a grupos de extrema esquerda violentos, reprimidos com legitimidade pelo Estado italiano. Está longe de dizer que não foi uma repressão política.
Terra - O pacote de medidas para equilibrar as finanças encaminhado pelo seu governo para a Assembleia Legislativa do RS vem sendo criticado por lideranças políticas e entidades de classe. Isso pode prejudicar sua imagem?
Tarso
 - Vamos bloquear a crise total da Previdência do Estado ou não? Aprovando as medidas, vamos estancá-la em curto prazo. Ou não aprovamos e daqui a 5 ou 10 anos quebra não somente a Previdência, mas o Estado do Rio Grande do Sul, que já tem um déficit previsto para este ano de R$ 500 milhões a R$ 700 milhões. Temos que renegociar a dívida com a União, mas essa medida só se realiza em longo prazo. Estamos combatendo a sonegação fiscal e cobrando a dívida pública, porém dependemos do Judiciário. Então, nenhuma dessas medidas bloqueia a crise. A nossa proposta é para estanca, porém, aqueles que ganham um pouco mais, devem pagar um pouco mais para manter os seus próprios direitos em vez de permitir que o sistema quebre ou que se aumentem os impostos.
Terra - Mas criar uma cobrança como a taxa de inspeção veicular é realmente necessário?
Tarso
 - Nem todas as medidas que nós tomamos são populares, só que a inspeção veicular foi criada por lei federal, não foi estipulada aqui. Como vai ser feito permite uma margem de negociação, sem urgência. Se a Assembleia não colocar em vigência, teremos feito a nossa parte.
Terra - No momento da maior crise do PT, em 2005, você assumiu a presidência nacional do partido. O senhor se arrepende disso ou faria tudo novamente?
Tarso
 - Faria tudo novamente. Não eram muitas as pessoas dispostas a deixar um ministério (Educação) de um governo bem sucedido para assumir a presidência do partido em um momento de decomposição total. Eu fiz isso de maneira consciente. Não ataquei nenhum dos dirigentes envolvidos com os escândalos, tenho respeito por eles, mas tenho divergências que acabaram me afastando da possibilidade de concorrer à presidência nacional do PT.
Terra - O senhor já foi prefeito, ministro, presidente do PT e agora ocupa o cargo de governador. Qual é o próximo passo?
Tarso
 - Sinceramente, todos pensamos nisso... (a Presidência). Mas eu acho que cheguei ao ápice da minha ação política orientada por eleições, o que não quer dizer que eu vá deixar de militar, pois eu sou militante político desde os 14 anos. Não está no cardápio político do RS oferecer o próximo presidente da República nem o outro, a não ser que haja uma profunda mudança estrutural do PT que permita a Estados fora de São Paulo uma influência maior. O outro motivo é que nós temos o Lula e a Dilma, que são profundamente respeitados e tem o acatamento de todas as bases. Eu espero que a presidente Dilma se apresente para a reeleição. Como eu já não cozinho na primeira fervura, devo raciocinar em termos de 8 a 12 anos. Portanto, não está na minha estratégia uma candidatura à Presidência

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