Há exatamente uma semana, Barack Obama foi a TV anunciar a morte de Bin Laden, responsável pelo mais sangrento atentado terrorista da história. Mas aquilo que poderia ter-se transformado numa demonstração de força da principal potência do planeta tornou-se um pesadelo diplomático.
A cada dia que passa, torna-se mais claro que o mundo de 2011 não gosta de potencias que não respeitam convenções internacionais, repudia investigações conduzidas por métodos criminosos, como a tortura, e prefere resolver seus problemas dentro do respeito à democracia e às regras do direito. É este sentimento que fez nascer, pouco a pouco, questionamentos e denúncias sobre a operação.
Para consumo interno, a execução de Bin Laden tornou-se, é claro, um grande troféu para as eleições de 2012. Titular de um governo repleto de fracassos e algumas meias-realizações, que jogaram sua popularidade para o fundo do poço, Barack Obama pode entrar na campanha pela reeleição enrolado na bandeira da força militar e da restauração da grandeza americana.
A proeza pode até funcionar do ponto de vista eleitoral, até porque o partido republicano foi incapaz, até o momento, de produzir um adversário confiável para enfrentá-lo. Mesmo assim, trata-se de um retrocesso considerável para quem ingressou na política com uma plataforma mudanças e reformas.
O desemprego americano continua alto e, graças a uma postura vacilante da equipe economica de seu governo, a recuperação é vagorosa, incompleta e desigual. São fraquezas que podem não ser suficientes para impedir a reeleição de Obama, mas podem transformá-la numa parada especialmente difícil apesar do troféu Bin Laden.
Do ponto de vista externo, a morte Bin Laden pouco contribuiu para restaurar o prestígio americano. Foram poucas as manifestações de solidariedade e de aplauso recebidas pela Casa Branca . Mesmo assim, elas foram minguando na medida em que surgiam revelações espantosas sobre o caráter da operação.
Essa reação reflete a nova realidade política global. Ao contrário do que ocorria nos tempos da Guerra Fria, em que os EUA tinham uma parcela dos governos a seu favor em função do conflito com a ex-União Soviética, nos dias de hoje não há alinhamentos automáticos nem aplausos com antecipação. É preciso saber o que se faz, como, por que.
Os interesses americanos deixaram de ser vistos como expressão dos melhores interesses da humanidade. Nem o governo do Paquistão, que recebe uma bilionária ajuda de Washington para atuar como aliado fiel, mostrou um comportamento à altura.
Essa falta de lealdade reflete, acima de tudo, um mundo com novas realidades, polarizações e interesses. Em várias partes do mundo os Estados Unidos deixaram de ser aquele aliado pelo qual os outros países — mesmo próximo — devem sacrificar-se.
A idéia de que o governo dos Estados Unidos considera-se no direito de definir um alvo humano e executá-lo na primeira oportunidade, pode até parecer uma solução aceitável diante dos ataques criminosos de 11 de setembro. É uma violência que tem o sentido de reparação em relação as vitimas e seus familiares e não é por outra razão que a popularidade de Obama disparou após a morte de Bin Laden. O orgulho nacional americano ficou dolorosamente ferido após os atentados.
O problema são as consequencias desse tipo de intervenção e os temores que ela gera. As nações, grandes ou pequenas, ricas ou pobres, são obrigadas a cumprir convenções internacionais, respeitar acordos e normas definidas para todos. Não podem sair por aí de helicóptero, capturando aqueles que consideram seus inimigos número 1.
Por que? Porque quem pega o inimigo número 1 depois vai querer pegar o 2, o 3, o 4, o 5…e ninguém sabe quem será o próximo da lista.
Sem a liderança do passado, os Estados Unidos perdeu autoridade economica e política para se colocar acima das outras nações, como se tivessem direitos especiais. A dificuldade para compreender essa situação transformou o antecessor de Barack Obama no pior presidente da história americana.
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