Dois fatos recentes foram destacados na imprensa internacional: a França proibiu o uso de burca em público; os EUA executaram Osama bin Laden. Outra questão perde as primeiras páginas, mas não a importância: as revoltas no Oriente Médio. Aparentemente, acontecimentos sem correlação; são, contudo, aspectos de uma mesma guerra inacabável.
Vários motivos
A história do Ocidente confunde-se com a narrativa das contendas entre os dois lados do Mediterrâneo. Até certo período, o motivo de fundo era a expansão territorial. Depois, veio, e ficou, a questão religiosa: a estúpida batalha entre o deus cristão e o deus muçulmano. Essa briga tem conteúdos - não só, mas também - de uma guerra de civilizações.
A história conta
O deus cristão foi gravemente enfraquecido com o Iluminismo. Desde a Revolução Francesa, o cristianismo, não obstante seguir habitando a cultura, já não governa o Ocidente. A Europa, e depois, também, a URSS e os EUA, não impuseram esse laicismo aos muçulmanos, mas por ditadores prepostos, para controlar o petróleo, controlaram o Oriente Médio.
Guerra santa
Essa região é essencialmente religiosa. Nos teores ideológicos de sua resistência, está a religião. Alá é o amálgama da fúria contra o estrangeiro ou o patrício que se “ocidentalize”. Lá, o Ocidente tem negócios; os muçulmanos têm uma guerra santa. Essa guerra foi trazida, na forma de terrorismo, às entranhas do Ocidente. Os muçulmanos não são vítimas. Por seu gosto, nunca teriam saído da Europa, que ocuparam por oitocentos anos.
Questões religiosas
Essa substância religiosa subjacente dá a dimensão civilizatória desse imbróglio. Ora, se o Ocidente laicizar mais o que genericamente se chama de nações árabes, melhor para o Ocidente. Se os muçulmanos abaterem todos os infiéis, estará cumprido o desiderato de seu jihad. A guerra é contra satã, satã é o Ocidente, a civilização ocidental.
‘Pecado’ por todo lado
Além dos objetivos, nos métodos de ambas as partes está a condição civilizacional. O Ocidente, além de fazê-lo com força física, invade com “pecados”: internet, celular, igualdade de gênero, moda, filmes, laicismo, democracia, liberdade religiosa, sexo, etc. O islã tem uma oferta única: o islã. Nem todos os islamitas pensam assim. Certo. Mas esses “moderados” não estão nas organizações de combate.
Democracia
Entre ocidentais, alguns reprovam a proibição de burca em público. Fala-se no direito de usá-la. Não creio que alguém a use por direito. A burca é prática e símbolo de sujeição da mulher, incompatível com a civilização ocidental. Li reclamações de que Osama não teve um julgamento justo. Osama era inimigo de guerra, não réu de um processo. No futuro, pelo voto, serão julgados os governantes responsáveis. É o realizável democrático.
Era pretexto
A situação embaraçada é o imprevisível desfecho das insurreições jovens nas ditaduras árabes. Era um pretexto sujo, a alternativa que o Ocidente se permitia: ou o “bom ditador” aliado, ou a ditadura religiosa inimiga. O Ocidente traiu a tradição iluminista, desconsiderou investir em democracia. Agora há o risco de ver a queda de seus títeres descambar em teocracias. Nos limites da pouca contribuição desta crônica, desejo muito que não.
Nenhum comentário:
Postar um comentário