Francisco Viana no Terra Magazine
O gestor de crises, se este é um nome apropriado, não pode ceder à tentações da estratégia ideal: em lugar da certeza narcísica de que cabe a ele determinar a hora que as crises terminam, precisa examinar a fragilidade das suas certezas e enfatizar as dúvidas. No caso Palocci, a dimensão que o noticiário vem ganhando, demonstra que se tem criado problemas dentro de problemas e, assim, em lugar da solução que se apequena - quando deveria ser rápida e precisa - se agigantam os contornos de uma crise de verdade.
Por quê? O caso começa quando o jornal Folha de S.Paulo revelou que o patrimônio do ministro se multiplicou 20 vezes no período de quatro ano.
Desdobra-se com as notícias de que a empresa de consultoria do ministro faturou R$ 20 milhões no ano eleitoral, receita comparada à das grandes consultorias do País e, de notícia em notícia, deságua na hipótese do tráfico de influência. Afinal, a versão divulgada pelo Planalto é de que o valor de um ex-ministro da Fazenda é muito alto. Como assim? Por quê é alto? Para que empresas o ex-ministro Palocci trabalhou? E que trabalhou realizou? Por que não foi ( ou não vai) ao Congresso prestar depoimento? Quais os limites do sigilo em casos que envolvem personalidades públicas?
Assim, a reação em cadeia chegou a uma tríplice consequência. A primeira, converge para o Congresso, com a paralisação da lei que pune o enriquecimento ilícito. A segunda coloca em questão a própria presidente Dilma Rousseff. Como ela irá agir? Onde se chegará se os fios continuarem sendo puxados? Esse é um aspecto da gestão de crise. Seja qual for o caso, é importante que o noticiário reflua em lugar de se adensar. O segundo aspecto é que o governo precisaria transmitir normalidade. Não é o que parece estar acontecendo. E há ainda a eventual retração de investidores internacionais, que podem vir a perder a confiança.
Na verdade, existe uma outra versão da crise Palocci ( e do francês DSK) que se projeta para além, muito além dos fatos cotidianos.
O contexto da vida do atual ministro da Casa Civil que caiu quando era ministro da Fazenda por força do episódio da quebra de sigilo das contas do caseiro Francelino? Em parte sim. Afinal, o caso voltou a ser noticiado e, naquela vez, ficou evidente que Palocci errou. E errou feio. Tanto que não resistiu. Caiu. Mas há uma questão maior que antecede, inclusive, a crise Francelino. Trata-se da vulnerabilidade da personalidade pública que, de repente, se encontra no meio de uma crise de comunicação. Leia-se crise de gestão ou de comportamento, por exemplo. Por que a crise não surge por geração espontânea. É impulsionada por algo que a antecede, como a própria organização social ou a presunção que muitos indivíduos cultivam em relação aos outros.
Não há saída. Ou se supera a crise, se demonstra que os fatos da razão trabalham a seu favor ou se perde a credibilidade. Se perde o cargo. Perde a confiança. Inclusive porque aquele que é sinônimo de problema, aquele cujo os holofotes da opinião pública iluminam como problemático e alvo de esquecimento, como se este fosse um reedição do ostracismo. O episódio que envolveu o francês Dominique Strauss-Kann, que a imprensa chama de DSK, é uma prova incontestável. Da noite para o dia, perdeu tudo: o colossal orçamento de 900 bilhões que geria como diretor do FMI, a possibilidade de vir a ser candidato socialista às eleições na França e viu sua vida ser esmiuçada pela mídia. E tudo por quê? Ainda não conseguiu restaurar a verdade dos fatos. Conseguirá? O tempo irá dizer. Porém, uma coisa é certa: a crise precisa ser contornada antes que se alastre. É como um incêndio. No máximo, na pior das hipóteses, precisa ser localizada. Caso contrário, perde-se o controle. Isto é elementar.
Guardadas as proporções, é o que Palocci precisa fazer. Ele precisa ir a público, apresentar, ele próprio sua versão, ancorada em fatos. Defender-se.
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