6 de abr. de 2011

A China testa Dilma

Por Clóvis Rossi na Folha

A visita que a presidente Dilma Rousseff fará na semana que vem à China acabará se transformando em um grande teste para sua promessa de que os direitos humanos estarão no centro de sua política externa (e interna também).
De alguma maneira, triste ironia, a visita pode reproduzir o que aconteceu com seu antecessor e padrinho Luiz Inácio Lula da Silva, que desembarcou em Cuba no momento em que morria Orlando Zapata, dissidente que havia feito longa greve de fome.
Lula em vez de lamentar a morte, condenou a greve de fome. Não disse uma palavra sobre a constante violação dos direitos humanos na ilha caribenha.
Pois Dilma corre o risco de chegar a Pequim, no dia 11, enquanto continua desaparecido ou preso o artista plástico Ai Weiwei, que a revista "The Economist" chama de "talvez o mais famoso crítico doméstico do Partido Comunista Chinês ainda em liberdade".

Weiwei foi detido a bordo de um avião no domingo quando se preparava para embarcar para Hong Kong. Até o momento em que escrevo (terça-feira, 15h em Brasília, 2h da madrugada de quarta em Pequim), não havia notícias dele.
É um patente absurdo. Como disse ao "Guardian" Pu Zhiqiang, advogado de direitos humanos, "até quando um bandido de rua é detido, eles [as autoridades] têm que informar após certo tempo, mas, no caso de Weiwei, não há informação".
Até a detenção/desaparecimento do artista, o Itamaraty não estava preparado para pôr direitos humanos no topo da agenda de Dilma. "A presidente não vai lá para dar nota à China em direitos humanos", me disse, na segunda-feira, a embaixadora Maria Edileuza Fontenele Reis, subsecretária de Política e que está cuidando na Chancelaria da visita à China.
Dados os interesses envolvidos no relacionamento do Brasil com a China, agora o principal parceiro comercial, até dá para entender, embora eu pessoalmente discorde. Mas sou franco-atirador, não tenho responsabilidade de governo.
O problema é que o caso Weiwei, que se segue a uma série de outras medidas arbitrárias (mais detenções, desaparecimentos, censura à internet etc), cria uma nova situação em que é difícil a uma ex-presa política, como Dilma, silenciar.
Afinal, pode-se censurar o quanto se quiser a seletividade do Ocidente nas suas críticas à violações dos direitos humanos, mas não dá para discordar de William Hague, ministro britânico do Exterior, quando ele diz: "O desenvolvimento de uma sociedade civil independente e a aplicação dos direitos humanos sob as regras da lei são pré-requisitos essenciais para a estabilidade e a prosperidade de longo prazo da China".
Não chega a ser uma frase particularmente agressiva, mas tornaria o eventual silêncio de Dilma um vexame internacional.

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