"Primeiramente, deverão saber que os impuros não poderão me tocar sem luvas..."
Wellington Menezes de Oliveira
É realmente trágico o que aconteceu no Rio de Janeiro. A violência já é terrível. Uma chacina de crianças é o fim. Muito se discutirá sobre o fato de o rapaz ser "estranho" e sobre a necessidade de segurança nas escolas. Por acaso, ou por conveniência, todos falam sobre medidas que agradariam as empresas que vendem "proteção", mas poucos falam sobre medidas que desagradariam empresas que vendem as armas.
Wellington separava o mundo entre puros e impuros, entre bons e maus, entre cidadãos de bem e bandidos. A sua visão era claramente maniqueísta. Ele, religioso e seguidor dos bons costumes, obviamente, estava entre os superiores e achava que devia combater os inferiores. Precisava melhorar o mundo e defender os bons valores, eliminando os selvagens, infiéis. Para tanto, poderia comprar e usar armas de fogo.
É difícil descobrir a razão da opção pelo ataque a garotos na escola. Vislumbro pelo menos três possibilidades. Talvez, ele imaginasse que as crianças eram impuras e, por isto inimigas, que deviam ser afastadas da sociedade. Quem sabe, acreditasse que elas deviam ser punidas, para dar o exemplo e prevenir que outros se tornassem impuros. Quiçá, pensasse que a morte seria um bem para os jovens, apesar de eles não saberem.
O atirador reproduziu, à sua maneira, a defesa social, o direito penal do inimigo, a prevenção geral negativa, a prevenção geral positiva, a prevenção especial negativa e a prevenção especial positiva. Imitou ainda o discurso conservador e vazio sobre religiões, sexualidade e família. Imaginava que era tão bom que tinha o direito, talvez divino, de decidir o futuro daqueles que não se ajustariam ao seu modelo, dispondo dos seus corpor, punindo-os severamente (ainda que para o seu bem).
No fundo, Wellington não era uma simples aberração; era um espelho. Mais útil que tentar descobrir a "doença" dele é atentar para a nossa.
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