Por Thiago Chacon no blog do Noblat
A maconha é uma dos milhares de plantas que chegaram ao Havaí pela ação humana. Isso não seria nada de extraordinário, mas como a maconha não é uma planta comum...
Aqui a maconha é ilegal, mas vem sendo descriminalizada. Leis favoráveis ao seu uso vêm sendo aprovadas nos últimos 20 anos, de maneira que o hiato entre a lei do Estado e a prática da sociedade está diminuindo.
O Havaí se tornou o primeiro Estado no mundo moderno a produzir maconha industrialmente. Isso mesmo: aqui há projetos econômicos com a Cannabis Sativa. Mas atenção! Especialistas salientam que a variedade industrial da maconha contém apenas 1% de THC, e a variedade usada para ‘lazer’ contém de 3% a 20%.
Não sei se 1% é insuficiente para o ‘lazer’, mas o que separa o veneno do remédio é a dosagem, certo?
A maconha tem inúmeras aplicações na indústria e sua autorização se deve também à necessidade de melhorar a economia do Havaí.
Dizem que por volta de 1820, o rei havaiano também já recolhia impostos sobre a maconha, antes de o arquipélago vir a fazer parte dos EUA, quando ela se tornou ilegal.
Como em outros lugares, a maconha aqui também é usada medicinalmente, e um paciente pode conseguir autorização para, inclusive, plantar maconha da mesma forma que se pode plantar ervas e folhas para chás medicinais.
Outra é a visão do Ministério Religioso do THC, que a usa como sacramento, um sinal da graça divina, que aproxima criatura e criador.
Sim, o Ministério do THC aqui é algo tão sério quanto as religiões hebraica, mulçumana, rastafári e cristãs, que também fazem, ou já fizeram, uso do THC como sacramento, segundo diz o Reverendo Roger Christie, líder do Ministério e que está preso por distribuir maconha para os fiéis e recolher o dízimo.
Há um ano à espera de seu julgamento, Roger, um homem muito respeitado em sua comunidade, é uma pedra no sapato da legislação federal americana. Os juízes estão hesitantes em julgar seu caso, que envolve questões como a liberdade do culto religioso versus distribuição de uma substância (ainda) ilícita.
Em defesa do honesto Reverendo Roger, não seria correto pensar que se a maconha serve como remédio para o corpo também poderia servir como remédio para a alma?
De material para a indústria, a remédio e agora à substância santa, a maconha está ganhando espaço na sociedade, aumentando o debate sobre sua legalização.
Alguns pensam que isso vem para corrigir o erro de quando a maconha foi criminalizada no século passado.
Outros, no entanto, preferem acreditar que as únicas coisas que deveriam fazer fumaça no Havaí seriam os milhares de carros e a cratera fumegante do vulcão Kilauea.
Thiago Chacon é estudante de doutorado em Lingüística pela Universidade do Havaí. Formado em Letras pela Universidade de Brasília, está nos Estados Unidos há 4 anos e trabalha junto aos povos indígenas do Alto Rio Negro, na fronteira entre Brasil e Colômbia.
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