“Política é como nuvem. Você olha, ela está de um jeito. Olha de novo, ela já mudou”.
A frase, atribuída ao lendário político mineiro Magalhães Pinto, pode ajudar a definir o cenário em que se move a oposição política brasileira neste momento.
A diferença é que, cada vez que você olha, a nuvem da oposição está cada vez mais negra.
Pode-se dizer também, já que estamos no terreno dos ditos populares, que tudo isso é uma releitura do velho provérbio que diz: “em casa onde falta pão, todos brigam e ninguém tem razão”. O pão que falta, neste caso, é aquele que move as ambições, os sonhos e as aspirações dos políticos: o poder.
O PSDB, apesar dos esforços de seu guru espiritual Fernando Henrique Cardoso, que tentou abrir novas veredas por onde o partido poderia tentar reencontrar o seu “tônus vital”, se debate numa crise de autoextermínio fratricida, por onde se esvai não apenas a unidade de propósitos, mas também, de certa forma, a compostura pessoal e partidária.
O DEM, ex-PFL, vitimado por uma desastrada tentativa de “aggiornamento”, perdeu a sua identidade originalmente liberal-conservadora e não encontrou nenhuma outra para colocar no lugar. Resultado: o partido, que tentou livrar-se do estigma de ser “de direita” (que virou um verdadeiro palavrão pós-ditadura), não conseguiu vestir outro figurino e sangra, agonizante, em praça pública.
Para não ser de direita, nem de esquerda nem de centro, há um ator novo no pedaço, o PSD de Gilberto Kassab, que pelo menos tem a virtude da novidade e a latente promessa de transformar-se num abrigo de descontentes e consequentemente numa caixinha de surpresas, cujo rumo o tempo se encarregará de definir.
O resultado, trágico para a democracia brasileira, é que a oposição soma neste momento menos de 100 cadeiras no Congresso Nacional, está sem rumo e sem direção, e não consegue sequer articular um discurso coerente que dê eco e voz aos quase 44 milhões de brasileiros que investiram nela seus desejos e as suas aspirações.
O governo está atrapalhado, entre outras coisas, com a ameaça inflacionária, com a valorização do real, com o perigo da desindustrialização, com o fiasco administrativo na preparação dos grandes eventos esportivos, e a oposição não tem nem uma palavra, nem uma diretriz, nem sequer uma alternativa a oferecer a nenhuma dessas questões.
O governo, cujo núcleo duro é dirigido pelo PT e cujo entorno é sustentado por uma balofa e oportunista base fisiológica, não tem contraponto.
Há uma evidente e perigosa hipertrofia de poder, um desequilíbrio no sistema de “checks and balances” que constitui a essência de democracia.
O governo não tem nada com isso. Toda a culpa é da oposição, que não consegue sequer superar seus choques de personalismo nem as suas mesquinharias, quanto mais se dedicar a um projeto de País.
Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez.
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