por Luiz Carlos Azenha
A maioria dos jornais noticiou ao contrário: Reino Unido e Holanda vão à Justiça tentar recuperar o dinheiro de correntistas que tinham depósitos em bancos da Islândia que faliram.
Deixaram em segundo plano o fato: pela segunda vez a população da Islândia rejeitou a “solução de mercado” para a crise financeira do país.
O Financial Times, sim, destacou a reação do presidente da Islândia, Olafur Ragnar Grimsson, dizendo que ele demonstrou humor “triunfante” ao discursar na noite de domingo:
“Um dia antes, os eleitores do país rejeitaram pela segunda vez um acordo para pagar ao Reino Unido e à Holanda 5,8 bilhões de dólares perdidos no banco falido Icesave — um resultado que o sr. Grimsson viu como confirmação de sua decisão de pedir um segundo referendo sobre a questão.
“O povo agora já falou claramente sobre esta questão em duas ocasiões”, ele disse. “Os líderes de outros estados e as instituições internacionais terão de respeitar a expressão da vontade nacional”.
A mensagem do presidente era voltada aos governos do Reino Unido e da Holanda, que no domingo prometeram levar a Islândia aos tribunais sobre as dívidas, e à União Europeia, cujas conversações para admissão da Islândia foram colocadas em dúvida pelo voto Não.
Mais amplamente, ele parecia defender que a postura desafiadora da Islândia seja usada como modelo para outros países atingidos pela crise que enfrentam debates similares sobre como lidar com dívidas externas paralisantes. “Soluções para disputas que surgiram da crise financeira e da falência de bancos devem levar em conta os princípios democráticos”, ele afirmou.É tudo o que os banqueiros, obviamente, não querem.
Eles defendem, sempre, “soluções de mercado” tomadas nos bastidores, sem passar pelos parlamentos ou por aprovação em referendos.
Para enfiar as soluções goela abaixo das sociedades, os banqueiros contam com a mídia.
O que nos leva de volta ao ponto inicial: a ênfase, no caso da Islândia, será dada às punições a que o país ficará sujeito por votar não.
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