21 de jul. de 2011

Sou um inseto. Meu protocolo é 201100090521925

De Paulo Moreira Leite na Época

Muita gente pode imaginar que me tornei um cidadão com um certo prestígio.
Faço uma coluna na Época, a melhor revista semanal de informações do país.
Também publico um blogue com notas diárias, que muitas vezes tem lá sua repercussão. Faço comentários semanais na CBN. Também sou um dos entrevistadores fixos do Roda Viva,  na Cultura, o mais tradicional programa de entrevistas da TV brasileira. A comunidade que participa de meu twitter passou das 4100 pessoas, número que me deixa bastante orgulhoso.
Mas pode acreditar: esses vários cartões de visita estão longe de me colocar longe das agruras que afligem a maioria dos brasileiros. Também tenho minha vida de inseto, em que sou esmagado em meus direitos e aspirações a um tratamento correto.
Escrevo isso para fazer uma observação classica: se isso ocorre comigo, podemos imaginar o que se passa com quem não escreve na Epoca, nem faz entrevistas no Roda Viva e assim por diante.
Os leitores deste blogue acompanharam os problemas que enfrentei tempos atrás quando comprei uma geladeira e surgiram dificuldades com a assistencia técnica. Já enfrentei outros problemas como consumidor.
O mais recente envolve as operadoras de celular. Há quase um mes decidi mudar da Vivo para a Oi. É meu direito, garantido por não sei quantas regras e resoluções. Consumada a portabilidade, surgiu um problema. Meu celular não recebe chamadas de celulares operados pela Vivo. As ligações feitas para meu número acabam automaticamente na caixa postal, como se o aparelho estivesse desligado.

Ou seja: a transferencia só se completou pela metade. A portabilidade encontra-se no papel.
Já estive pessoalmente numa loja da Vivo para verificar se havia algum problema. Nada. Também fui a uma loja da Oi. Passei vários dias a espera de uma resposta. Instruido por um funcionário, liguei para a Oi e registrei o problema. Ali me deram o protocolo 201100090521925.
Um funcionário disse que o caso iria se resolver no prazo mais rápido possivel. Fui passado para o suporte técnico, que pediu que eu refizesse a ligação a partir de outro aparelho — pois aquele celular teria de passar por uma reconfiguração à distancia. Feito isso, um outro técnico me disse que estava fazendo determinados procedimentos. Depois, me disse para ligar e desligar o aparelho para ver se acontecia alguma coisa.  Nada. Em determinado momento da conversa, a ligação caiu.
Também liguei para a Anatel. Afinal, ela tem a obrigação de zelar por nossos direitos, em especial quando as empresas que administram nossa telefonia celular não se mostram à altura de suas obrigações. Meu caso já tem um protocolo ali, também. O número é 10178922011. O sujeito que me atendeu disse que eu teria um prazo máximo de cinco dias para resposta. Isso aconteceu ontem.
Vamos combinar que é um absurdo. Ninguém merece ser tratado como inseto.  Tenho compromissos pessoais e profissionais que dependem deste número de celular. Quem me garante que não perdi notícias importantes, novidades aflitivas e até revelações agradáveis?  Quantas providencias deixei de tomar?
Acho os relatos de consumidores desrespeitados monótonos e até um pouco chatos, mas  necessários. Vamos ver quando tempo vai durar minha viagem ao mundo destes invertebrados tão bem descritos naquele conto célebre de Franz Kafka, que descreve a triste manhã de um cidadão que acorda transformado em barata e perde a vida ao ser atingido por vassouradas. Se você tem disposição para relatar uma experiencia semelhante, fique à vontade. O espaço do blogue também é seu.


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