26 de jul. de 2011

Cuidado com eles


Por Cláudio Lembo no Terra Magazine
Uma nova onda corre pela Europa. O nacionalismo e ideais de direita se encontram por toda a parte. A crise econômica generalizada e a onipresença franco-alemã geram desconfortos e desconfianças.
Os sintomas de uma recaída à direita são recolhidos em diversas situações. Algumas banhadas em sangue. Outras na busca de esquecimento de um passado incômodo.
No sul da Alemanha, mais precisamente na cidade de Wunsiedel, as autoridades promoveram a exumação do corpo de Rudolf Hess, vice de Adolfo Hitler, no período nacional-socialista.
Foram além. Após a exumação cremaram os restos mortais do nazista e, segundo consta, com autorização da família, lançaram suas cinzas ao mar. Tudo isto para impedir peregrinações originárias dos mais diversos pontos da Europa.
É claro que a violação de uma sepultura e a cremação do corpo de seu ocupante não apaga da História a realidade amarga concebida pelo nazista.
A macabra cerimônia - por si mesma - contém um traço autoritário e recorda a queima de livros em outra época. Os livros foram queimados, mas a cena é recordada por todas as pessoas.
Toda tentativa de apagar registros mediante atos de autoridade produzem, no imaginário coletivo, recordações que serão transmitidas por todas as formas, inclusive por tradição oral.

No caso, no entanto, o que importa é a presença da direita extremada em visitas ao túmulo de uma personagem central dos quadros do NSDAP - o Partido Nacional-Socialista Alemão dos Trabalhadores.
O outro episódio possui tintas mais sombrias. Na civilizada Noruega, um quadro do Partido do Progresso, agremiação política de direta, praticou atentados terroristas de extrema gravidade.
Agiu contra a sede do governo norueguês, onde levou à morte no mínimo sete pessoas, meros funcionários burocratas no exercício de suas tarefas rotineiras.
Foi além o jovem de trinta e dois anos ligado ao pensamento de direita. Militantes do Partido Trabalhista, de natureza socialista, se encontravam reunidos na Ilha de Utoya. Eram muitos.
Andres Behring Breivik, o terrorista, dizendo-se policial, conseguiu desembarcar na pequena ilha e, de surpresa, passou a alvejar jovens desarmados e sem qualquer condição de defesa.
Mais de noventa membros da juventude do Partido do Progresso foram fuzilados por armas de repetição que o direitista portava. Nenhuma piedade. Nenhum sentimento de humanidade.
O massacre ocorreu em um dos países mais equilibrados da Europa e tão autônomo que não pertence à União Européia e nem adotou o euro como moeda.
Dois episódios isolados, mas que demonstram que o caldo cultural deixado pela extrema direita se encontra presente, em várias situações, no continente europeu.
Ele se acentuará com a progressão da crise econômica. Sempre é oportuno recordar que Hitler teve, na inflação galopante, um dos muitos alicerces de sua caminhada para o poder e para a realização de seus atos criminosos.
Por toda a Europa, velhas e caricatas figuras anteriores à Segunda Guerra Mundial são lembradas, a meia voz, por populares e também por lideranças políticas.
Muitos desejam o fim da democracia e o retorno ao führerprinzip: um chefe conduzindo, sem oposição e liberdade de expressão. Desprezam a democracia e seus agentes.
Esta mesma onda pode atingir a América austral, onde partidos fracos e personalidades duvidosas fazem a sociedade descrer nos valores democráticos.
Este o risco. Todos devem se unir na defesa da democracia e no real esquecimento das doutrinas de ultradireita. Da Europa vem o alerta. A violência é o primeiro sintoma dos regimes autoritários. Depois, a progressão geométrica para perda total da dignidade. Cabe aos verdadeiros democratas impedir - pelo exemplo - que ocorra a tragédia anunciada.

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