26 de jul. de 2011

O fim do mundo adiado

Por Heitor RAF N blog do Nassif
Não acredito que a história se repita. É possível que haja alguma restrição ao ímpeto dos financistas, que impeça o mergulho que a Europa ensaia rumo ao Século XIX. A extrema direita será combatida, ainda que o Islã continue sendo demonizado. O Banco Central Europeu está ganhando tempo e criando mecanismos para transferir dos bancos privados - europeus, na maioria - para os Estados nacionais, os papéis das dívidas dos países em dificuldades. Mas os banqueiros terão de desistir da tentativa de voltar ao passado.
Mas a fila também está andando no Oriente Médio e na Eurásia. Rússia e China construiram uma aliança estratégica (Organização de Shangai para a Cooperação) que age em termos de garantir suprimentos energéticos - gás e petróleo - para a China a partir das repúblicas ao sul da Rússia, o que lhes garantirá recursos sem a tutela dos EUA, para quem a retribuição da ajuda aos países da região, é a instalação de bases militares - com mísseis apontados para Rússia e China - em seus territórios. Com gás e petróleo da Eurásia escorrendo para a Ásia, cai o projeto dos EUA de construir um oleoduto ao longo do sul da Rússia para levar petróleo até a Europa, afim de reduzir a dependência européia do fornecimento russo. A SCO tem projetos de suficiência energética para a Índia e o Paquistão, pendentes apenas da solução dos conflitos entre os dois países. O Irã também trabalha com o Sudeste Asiático, tendo construído um oleoduto até sua fronteira com o Paquistão, extensível até a China e a Índia.

rA África já está sendo invadida pela Otan - Líbia e Costa do Marfim - que encontra resistência da Organização da Unidade Africana. Nenhum dos 53 paises da OUA aceitou a instalação de bases militares dos EUA no continente. E na América Latina, bases militares foram fechadas no Equador, e as que Uribe autorizou no fim do seu governo não saíram do papel, barradas pelo equivalente colombiano do STF. Acredito que não será diferente no Peru. A Argentina bloqueou um projeto de cooperação entre policiais norte-americanos e argentinos, porque no cargueiro que levou material para treinamento, foram encontrados itens não descritos e pré-aprovados pelos hermanos para a ação. O avião voltou para casa e a manobra está congelada. 
A diplomacia multilateral engatinha, mas já consegue que os EUA e a OTAN adiem planos, ainda que os objetivos se mantenham. Mas a viabilidade política - e agora econômica - da guerra permanente contra inimigo intangível - o terror - fica cada dia mais distante.
A repulsa às guerras de conquista cresce todos os dias, apesar do trabalho - ou da omissão - da imprensa na Europa e nos EUA. Os norte-americanos tentam trocar o Afeganistão pelo Paquistão para que possam dizer que venceram alguma coisa, face a retirada de tropas do território afegão prometida por Obama. Conquanto tenham matado Osama Bin Laden, se é que mataram, não foram muito além de assassinar civis com drones pilotados a partir da América, como num vídeogame. O irmão de Karzai, o principal preposto da CIA no país, foi assassinado este mês pelos talibãs, deixando sem pai e sem mãe a Robert Gates, ex-comandante militar na região e agora chefe da agência. A invasão e destruição do Iraque de Saddam Hussein, resultou na formação de um governo xiita, vale dizer, aliado do Irã. E em 31 de Dezembro, todas as tropas dos EUA deverão ter voltado para casa.
Por essas coisas é que não acredito no fim do mundo. As coisas estão cada vez mais difíceis para os países imperialistas, particularmente para os EUA. Uma crise econômica devastadora será a cereja do bolo servido à mesa deles, o mesmo bolo que empurraram goela adentro dos latino americanos nos últimos cem anos, e ao resto do mundo desde a Segunda Guerra.

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