18 de jul. de 2011

A concentração da mídia em poucos grupos deforma a opinião pública


News of the World

Cláudio Lembo
De São Paulo
Da Inglaterra vem o terremoto. A velha ilha exporta escândalo impensável nos antes vetustos meios informativos ingleses. Um horror. Um descalabro.
O autor é o milionário australiano Rupert Murdoch e sua trupe. De há muito, conta com o hábito de colecionar veículos de comunicação. Começou em sua ilha nativa, a Austrália, e depois desembarcou na outra ilha, a Inglaterra.
Mais tarde invadiu os Estados Unidos e, no continente, adquiriu redes de televisão e jornal dedicado a assuntos econômicos. Foi além. Passou, por meio de seus veículos, a apoiar os conservadores e, particularmente, figuras do Partido Republicano.
Foi insaciável seu apetite por mídias. Queria dominar todas as mentes e, como conseqüência, ser titular das vontades das comunidades onde operava.
O episódio não é novo. É impressionante em virtude da grandiosidade do império de Murdoch. Possuía jornais impressos. Redes de televisão. Rádios. Sites. Enfim dominava o universo das comunicações.
O excesso de poder inebria os homens. Murdoch, apesar de sua autossuficiência, era humano e se perdeu em sua imensa volúpia em manipular vontades e gerar opiniões.
Pode-se enganar a opinião pública por algum tempo. Jamais por todo o tempo. Um dia a casa cai. Caiu o império do magnata australiano. Ruiu em ponto sensível e de difícil recuperação.

Murdoch fragilizou-se no campo ético. Usou de todos os artifícios para gerar notícias e manipular informações. Captou conversas por meios ilegais. Forjou silêncios que levaram à morte de pessoas.
Murdoch não teve limites. Sua desastrada experiência com meios de comunicação traz a tona o perigo da manipulação destes instrumentos por personalidades sem fronteiras morais.
O tema é antigo. Foi objeto de análises por diversos ângulos e por personagens engajadas nas mais diversas correntes políticas. Sempre esbarra em princípio inviolável: a liberdade de expressão.
É verdade. A liberdade de expressão é arcabouço do regime democrático e compõe os atributos mais fundamentais de cada pessoa. A partir da liberdade de expressão, as pessoas tornam-se titulares de sua própria vontade e da condução de seus atos.
No entanto, a concentração dos veículos informativos em poucos grupos econômicos é fator de deformação da opinião pública. Esta, para sua informação, necessita de posicionamentos diferentes para formar as consciências de cada membro da coletividade.
No passado, a comunicação restringia-se às formas impressas. Os jornais eram muitos. As tiragens pequenas, mas as opiniões divergiam. Hoje, com os elevados custos de produção, poucos são os jornais impressos. Os seus posicionamentos apontam para uma monótona igualdade.
Há o domínio da unanimidade nos veículos impressos. Os eletrônicos, particularmente s jornais sensacionalistas, mostram-se caóticos e registram para uma amarga inconsistência.
Murdoch, com sua cadeia de veículos de informação, aflora, no momento, figura de novo Leviatã. O monstro bíblico, transformado no Estado onipresente por Hobbes, hoje está ativo em redes como a mantida pelo australiano.
Elas podem tudo. Todos temem sua presença. São inatingíveis até o dia em que violam princípios inerentes a todas as pessoas. Ai ocorre à reação em cadeia. E os impérios inabaláveis passam a ruir como castelos de areia.
O episódio do magnata da imprensa internacional exige análise e reflexão por parte de cada pessoa e de maneira particular pelos senhores da informação.
Nada é tão duradouro e nada resiste impunemente, por todo o tempo, às agressões morais. Foi o que aconteceu com Murdoch. Pode ocorrer por toda a parte.
Em qualquer hemisfério, em países com tradições arraigadas ou naqueles que adotam novas formas de convivência, um elemento se apresenta imutável: os valores éticos. Estes geram a credibilidade, bem inalienável.

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