Amália Safatle no Terra Magazine
Como se lidar com as mudanças climáticas em si já não fosse um esforço monumental, ainda é preciso gastar tempo e saliva para demonstrar a relação direta entre o aquecimento global e a ação humana. É o que faz o site skepticalscience.com, dedicado a tratar com ceticismo os chamados céticos - para quem as mudanças do clima não passam de um fenômeno puramente natural.
No documento, o grupo de especialistas desconstrói, um a um, os argumentos dos céticos. Pinçamos aqui alguns deles.
A primeira desconstrução é no formato da "tese" adotada pelos céticos : quando se examina seus vários argumentos, percebe-se um padrão. Eles tendem a se concentrar em pequenas partes do quebra-cabeça enquanto ignoram o conjunto. Um bom exemplo disso é dizer que as emissões humanas de CO2 são minúsculas se comparadas às naturais. De fato: emitimos 20 bilhões de toneladas anualmente, frente a 776 bilhões - a maioria exalada pelas plantas e pelos oceanos. Mas não fala que a natureza, principalmente por meio da fotossíntese, também absorve carbono em seu ciclo: 788 bilhões de toneladas todos os anos, equilibrando as próprias emissões.
Ou seja, o que as emissões humanas fazem é perturbar esse equilíbrio. Com a queima dos combustíveis fósseis - dizem os pesquisadores-, o nível de carbono está entre o mais alto dos últimos 2 milhões de anos.
Outro argumento comum entre os "céticos" é de que "o clima mudou naturalmente no passado, e portanto o aquecimento global recente não pode ser imputado aos seres humanos". Para os autores do estudo, isso equivale a dizer: "No passado, houve queimadas em florestas que ocorreram naturalmente, portanto, qualquer queimada recente não pode ter sido causada pelos seres humanos".
Na verdade, o passado fornece pistas fundamentais sobre como o planeta responde aos vários fatores determinantes do clima e mostra como ao clima da Terra é sensível a qualquer variação.
Aos que afirmam que o aquecimento global será bom para a humanidade, mais uma pronta resposta: "dizer isso é fechar os olhos para os vários impactos negativos." O argumento mais comum entre os céticos é que o gás carbônico é alimento para as plantas, entao emitir CO2 seria algo bom. Isso ignora o fato de que as plantas precisam de mais do que carbono para sobreviver. O efeito positivo é limitado e superado pelos impactos negativos do estresse térmico, seca, poluição e perda de biodiversidade, todos estes com expectativa de aumento.
Além disso, há muitos impactos de mudanças climáticas que não têm nenhum aspecto positivo. Entre 18% e 35% das espécies animais e vegetais podem desaparecer até 2050. Oceanos estão absorvendo muito do carbono do ar, o que leva à sua acidificação, com efeitos desestabilizadores em toda a cadeia alimentar oceânica. À medida que geleiras e terras cobertas de neve diminuem, diminui também o fornecimento água. Sem falar em tempestades, inundações, aumento de doenças e migrações forçadas.
Mais de 97% dos especialistas em clima estão convencidos de que os seres humanos estão mudando as temperaturas globais.
Corrupção
Mas não basta lidar apenas com os céticos, que parecem constituir uma minoria. Número maior talvez seja o de corruptos. A Transparência Internacional alerta para necessidade de criar mecanismos de controle que impeçam o desvio de recursos destinados à adaptação às mudanças do clima, especialmente porque serão canalizados a países com alto índice de corrupção.
Segundo o relatório Global Corruption Report: Climate Change (disponível paradownload, em português), boa parte dos US$ 700 bilhões que devem ser investidos até 2020 usará canais e mecanismos de mercado nunca testados, o que abre brechas para desvios.
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