Do Balaio do Kotscho
Não, agora não é mais apenas uma força de expressão: o título acima resume o crime hediondo cometido por 16 pessoas presas esta semana pela Polícia Federal em Alagoas, entre elas quatro “primeiras-damas” de municípios do interior, que desviaram dinheiro da merenda escolar para comprar ração para cachorro, garrafas de uísque 12 anos e caixas de vinho, entre outros artigos de primeira necessidade.
Já vimos de tudo em matéria de bandalheira no nosso país, mas pode existir algo de mais abominável do que literalmente tirar pão da boca da crianças, em sua grande maioria carentes, que têm na merenda escolar muitas vezes sua única refeição do dia?
Será que estas mulheres chamadas de “primeiras-damas”, cujos nomes foram mantidos em segredo de Justiça, não têm filhos, netos, alguma criança na família para saber a barbaridade que estão cometendo?
A PF calcula que em dois anos estes criminosos desviaram R$ 8 milhões da verba destinada à merenda das escolas públicas de Alagoas. Quantos quilos de comida e litros de leite poderiam ser comprados com esta grana que o governo gastou e não chegou às crianças alagoanas?
O pior é isso: o esquema já é antigo, tem um monte de gente envolvida em mais de 20 municípios, incluindo Maceió, os supermercados que forneciam a merenda também faziam parte dos desvios de verbas do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar)para abastecer as mordomias das excelências municipais, e ninguém denunciou nada antes que a Polícia Federal botasse as madames em cana.
Segundo relato do repórter Odilon Rios, na edição de O Globo desta quinta-feira, “as fraudes na aplicação dos recursos da merenda escolar em Alagoas são facilitadas pela falta de qualificação dos conselheiros municipais de educação”.
Além disso, há o medo de denunciar os poderosos. “Não quero ser um novo Pedro Bandeira”, dizem os moradores, lembrando o caso do professor de Educação Artística Paulo Bandeira que, em 2004, foi acorrentado e queimado vivo em seu carro ao denunciar desvios de verba no município de Satuba. Autor do crime: o então prefeito da cidade, Adalberon de Moraes.
Se é assim no interior de Alagoas, é bem provável que este crime hediondo _ se ainda não for, tem que ser assim qualificado pelo Código Penal _ esteja sendo praticado neste momento em outros pontos do país onde os cachorros ficam gordos e os donos do poder tomam bons uísques com o dinheiro da merenda escolar das crianças pobres.
Pode existir um crime mais abominável do que roubar comida da boca de criança e, portanto, do ensino básico em escolas públicas, num país com tantas carências, que tem na educação a sua maior prioridade, a esperança de oferecer um futuro melhor para todos?
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