De São Paulo
Era 18 de dezembro de 2009. No dia anterior, o então governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), divulgara nota desistindo da candidatura à Presidência da República. No Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, seu correligionário, José Serra, que se recusava a tratar de uma eventual candidatura publicamente, sugeria ao secretário-assistente para o Hemisfério Ocidental do Governo dos EUA, Arturo Valenzuela, que como presidente conduziria uma política externa mais alinhada com os Estados Unidos.
É o que revela o novo lote de telegramas vazados pelo site Wikileaks para blogs, cujo recorte é a eleição presidencial de 2010. Durante os 90 minutos do encontro, Serra criticou a política externa do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, deu a entender que as referências do governo americano a uma “relação especial” com Lula não agradavam a todos os segmentos do Brasil e “poderiam ser manipuladas pelo PT”. A conversa parece não ter impressionado o secretário: “Serra pareceu em geral mal informado ou desinformado sobre recentes desdobramentos no Cone Sul, inclusive sobre a situação do presidente [Fernando] Lugo do Paraguai [então às voltas com uma série de reconhecimentos de paternidade], parecendo imerso principalmente na política brasileira provinciana”, relata o documento.
Então líder nas pesquisas de intenção de voto, Serra observou a Valenzuela que o Brasil estava alcançando níveis nunca vistos de corrupção e que o PT e sua coalizão de apoio usavam os crescentes gastos públicos para construir uma máquina eleitoral. Somado ao fato de o PSDB, segundo o ex-governador, ser relativamente mais pobre, Serra deu a Valenzuela a impressão de não estar firmemente convencido de que venceria as eleições presidenciais.
Em sua passagem pelo Brasil, Valenzuela já havia participado de um almoço com analistas políticos e econômicos, entre eles o ex-ministro de Relações Exteriores Celso Lafer, o ex-embaixador do Brasil nos EUA Rubens Barbosa e o ex-ministro de Ciência e Tecnologia, Jose Goldemberg, entre outros. As opiniões deste último aparecem com destaque no documento vazado pelo Wikileaks. Segundo o relato, Goldemberg teria classificado a performance do presidente Lula na Conferência sobre o Clima (COP-15), como “medíocre” e sugerido que os países de ponta deveriam reunir-se em pequenos grupos para fazer avançar questões de financiamento e fiscalização.
A assessoria de José Serra informou que o ex-governador está em viagem no exterior e, por ora, não se pronunciará a respeito.
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