28 de mar. de 2011

A Sari'a - O caminho


Cláudio Lembo no Terra Magazine
De São Paulo
Os meios de comunicação, nos países ocidentais, oferecem uma visão distorcida dos acontecimentos que vêm se desenvolvendo no mundo muçulmano.
Os países do Islam - árabes ou de outras etnias - são considerados despidos de História e repletos de tribos pouco afeitas ao convívio com a Europa e Estados Unidos.
É meia verdade. Todos os países muçulmanos, particularmente os situados na Península Arábica sempre mantiveram fortes vínculos com o Ocidente.
Estes vínculos mostraram-se, em passado recente, com nítido corte colonialista, onde as intrigas diplomáticas e os tratados secretos contrários aos interesses árabes eram constantes.
É sempre oportuno registrar o tratado secreto entre franceses e ingleses - Tratado Sykes-Picot - que escondia uma ação contra a eventualidade do surgimento de uma nação árabe comum.
Publicamente, ambos os países, França e Inglaterra, apoiavam o surgimento de um mundo árabe unido e concomitantemente, mediante ações sob-reptícias apoiavam revoltas locais contra este objetivo.

Imagem desta insídia é Thomas Eward Lawrence - Lawrence da Arábia. Esta figura de herói romântico com aparente apoio dos ingleses lutou pela unidade árabe.
No entanto, à sua revelia, a fragilização da luta comum era boicotada por seus conacionais ingleses. Lawrence, ao conhecer a traição, deixou a vida militar e não aceitou condecoração concedida pela Rainha de seu país.
É apenas um episódio. Ele se repete em outro contexto com Sadam Hussein, antes um aliado dos interesses norte-americanos e depois sentenciado à morte no decorrer da ocupação do Iraque.
Inumeráveis são os fatos próprios da vida política dos países árabes e dos muçulmanos em geral. É bom recordar que Mustafá Kemal, o reformador da Turquia, por isto chamado Atarurk, o Pai dos Turcos, tornou-se, após suas intervenções, um duro ditador.
Estas considerações possuem um único objetivo. Trazer à reflexão elementos capazes de permitir a compreensão dos episódios políticos atualmente em curso no mundo árabe.
Há certamente mal estar contra ditaduras envelhecidas e grupos de aproveitadores da administração pública. Estes podem ser oriundos de antigas famílias aristocráticas ou de movimentos político-militares com traços modernizantes.
A diferença é de roupagem. Todos, com louváveis exceções, são operados pelos interesses dos países centrais e especialmente das empreses petrolíferas.
Daí se imaginar que as revoltas em desenvolvimento se assemelham, como querem alguns europeus, com a Revolução Francesa, é excesso de imaginação.
As lutas populares em 1789 foram precedidas de muito conflito de ideias e forte combate à religião dominante na França, o catolicismo. Existia um componente nacionalista simbolizado na luta contra a Áustria.
No mundo árabe, em termos de sociedade, o grande motor da História é o desapreço aos países colonizadores e suas práticas. Este anseio de autoafirmação desembocará, em níveis diversos, em uma fonte: a religiosa.
É ingênuo esperar-se uma modernização - ao estilo ocidental - em todos os países em ebulição. O Ocidente perdeu a religião. O Islam tem na religião os elementos de sobrevivência. Há um conflito de modos de vida entre as duas realidades sociais.

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