4 de mar. de 2011

Saquaremas e luzias

Blog do alon

Do Império dizia-se que nada mais parecido com um saquarema do que um luzia no poder. Luzias eram os liberais e saquaremas os conservadores. Na nossa novíssima República, nada mais parecido com um parcimonioso sustentável do que um desenvolvimentista no poder


O Brasil teve um belo crescimento ano passado, 7,5%. Essa é a boa notícia. A ruim é que a taxa não se sustenta. As próprias autoridades econômicas dizem que 2010 foi um ano diferente, ponto fora da curva.

O Brasil teve ano passado um crescimento só inferior ao chinês e ao indiano. Essa é a notícia boa. A não tão boa é que o Brasil tinha andado para trás em 2009.

Na média dos dois anos nosso crescimento não chegou a 4%, realidade bem distante dos emergentes mais dinâmicos.

Os economistas dizem que a diferença com China e Índia é esperada, por causa dos distintos estágios de maturidade.Nós somos um país mais maduro, o que também pode ser quantificado pela menor proporção de gente ainda “fora do mercado”, e portanto do tamanho relativo da reserva de mão de obra disponível, que pressiona para baixo o preço do trabalho.

Esse é um ponto importante quando se discute a taxa de câmbio. Sua relação com o diferencial do custo do mesmo trabalho aqui e em outro lugar.

Talvez seja o caso de usar agora uma metodologia bastante empregada pelo governo anterior quando iam aparecendo os números ruins depois da crise de 2008. Dar importância apenas relativa ao passado, concentrar-se no futuro.

Aliás, foi o que Dilma Rousseff fez ontem. Ela sabe que não vai repetir o belo número tão cedo, então tratou de precaver-se.

O debate sobre a economia brasileira é um só, na essência. Se estamos ou não condenados ao teto de crescimento abaixo de 5%. O jogo do contente diz que tal limite é um fato da natureza. É até desejável, por não afetar excessivamente os ecossistemas nem provocar grandes desequilíbrios. Será?

Nessa teologia, a inflação seria a febre a advertir que passamos do máximo possível, o tal “PIB potencial”. Como agora em 2011.

Há quem não se conforme, não participe desse conformismo estrutural.

Os inconformados dizem que a lógica precisa ser invertida. Em vez de ficar discutindo por que estamos impossibilitados de crescer mais, talvez seja o caso de decidir crescer mais e depois cuidar dos problemas que forem aparecendo por causa da decisão.

Seria uma ótima opção. Infelizmente porém, esse ponto de vista só costuma ser encontrado fora do governo, e olha lá. Do Império dizia-se que nada mais parecido com um saquarema do que um luzia no poder. Luzias eram os liberais e saquaremas os conservadores.

Já na nossa novíssima República, nada mais parecido com um parcimonioso sustentável do que um desenvolvimentista no poder. E a explicação é óbvia.

O modelo de expansão apenas moderada, moeda forte, déficit externo e desnacionalização maciça (o nome mais clássico da dependência dos tais “investimentos diretos”) atende com bastante efetividade a segmentos influentes de uma sociedade de firmes raízes agrárias e coloniais. E financeiras.

Uma vez eleito, o desenvolvimentista vê-se dividido entre pactuar com o poder real e confrontá-lo. A segunda opção embute risco maior.

O voto do jovem desempregado e subescolarizado vale a mesma coisa que o voto do classe média feliz com o poder de compra do real lá fora, mas essa é uma comparação que vigora só em época de eleição.

Já no intervalo entre uma e outra urna vale mesmo é a força política de quem está se lixando para a inserção periférica de uma economia primária, desde que os negócios de sempre caminhem bem.

O debate econômico no Brasil da grande inflação costumava polarizar-se entre ortodoxos e heterodoxos. Corrigido o vício inflacionário, transformamo-nos numa nação de desenvolvimentistas relativos.

É a velha história dos saquaremas e luzias, na versão adaptada ao século 21.

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