3 de out. de 2010

Política, Superstição e preconceito

Do blog do Nassif


O último vagido do atraso


O Bolsa Família reduziu substancialmente o poder do coronelismo. De posse do cartão, famílias retiram dinheiro sem passar pelas bençãos de ninguém. Fiscalização permanente reduz o poder das prefeituras em selecionar arbitrariamente os beneficiados. Votam hoje no lulismo, por gratidão. Se não votassem, não haveria como retirar os benefícios.
A revolução representada pela entrada desses novos cidadãos ao mercado político, assim como pela urna eletrônica, é tão significativa quanto a introdução do voto secreto e do voto do analfabeto.
É curioso que os que mais criticavam esses avanços se apresentavam como representantes da modernidade, da cultura, do Brasil cosmopolita contra o Brasil atrasado.
Mas onde está, de fato, o lado atrasado da política?

Nos últimos dias, a onda que se erguei contra Dilma Rousseff nada tinha a ver com o que foi plantado exaustivamente pela velha mídia. Risco de venezuelização, ligação com FARCs, sindicalismo opressor, corrupção desenfreada, ameaça às liberdades de imprensa, tudo foi varrido do debate pela vassoura do ridículo.
O que está pegando é o vagido de um país atrasado, que ainda se move por superstições. É a campanha – reverberada pelos supostos arautos da modernidade – sobre a posição de Dilma em relação ao aborto, alimentando uma maior, sobre a suposta ameaça de fechar todas as igrejas, sobre a suposta declaração de que nem Cristo tiraria sua vitória. É o Brasil «erudito», tão semelhante ao da República Velha, criando currais de superstição para tentar reverter a marcha dos votos.
Esses «currais» de opinião pública foram sedimentados ao longo da mais massacrante campanha midiática que se tem notícia. O público efetivamente culto se afastou desse movimento de ódio. Ficou o público mais supersticioso.
Há outros fatores, menores, nesse movimento dos últimos dias. Opinião pública, de fato, se move como ondas. Isso tem ocorrido em todas as eleições. Houve a onda vermelha, que atingiu seu ápice semanas atrás. Depois começou a refluir em um ritmo lento. Agora, a onda Marina impulsionada pelos ataques religiosos à candidatura Dilma.
Ainda não se tem certeza sobre se haverá segundo turno ou não.
De qualquer modo, se o segundo turno acontecer, o responsável será a parcela atrasada do Brasil, que se move por ignorância e por preconceito. E que teve na velha mídia seu porta-voz mais expressivo. 




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