28 de out. de 2010

Chupão e a oferta de Joaninha

Se vê coisa no judiciário
Do blog do Josivaldo Toscano Jr.

Joaninha e Chupão


Audiência preliminar do juizado criminal em Pau dos Ferros. Comigo na sala estava o então Promotor de Justiça Rosmar Antonni Alencar, hoje Juiz Federal.
Como de costume, eu deixava os autos do processo com o Ministério Público para que fizesse a oferta de transação penal.
Entram na sala as partes. Uma delas o ofendido, jovem de vinte e poucos anos, de cara amarrada e parecendo bastante chateado. Cruzou os braços e ficou olhando para os lados. Como autor do fato, sentou-se à sua frente um sujeito também jovem, com ar andrógeno, cabelos longos, vestimenta chamativa, trejeitos e voz afeminados. Intitulou-se “Joaninha”.

Rosmar pega o processo e começa a analisá-lo. O tempo passa... e nada. Faz cara de quem não está entendendo. Intrigado, questionei sobre o que estava acontecendo, ao que me devolveu o processo, perguntando:
- Excelência, poderia ler para todos nós o que tem aí? Não consegui entender os fatos.
Recebendo o processo em mãos, inocentemente me pus a ler em voz alta o que estava narrado no boletim de ocorrência, nos seguintes termos:
“O ofendido estava bebendo numa mesa, acompanhado de Joaninha e de outras pessoas, na vaquejada da cidade. Lá pelas tantas o ofendido ficou muito embriagado e precisou ir ao banheiro. Com medo de que alguém furtasse sua carteira, pois estava cambaleando, colocou-a em cima da mesa e pediu que Joaninha a vigiasse. Quando voltou, a carteira não estava mais lá. O restante das pessoas da mesa tinha ido embora. O ofendido perguntou a Joaninha onde estava a carteira. Este respondeu que só a devolveria se o ofendido fosse até um matinho próximo, pois a carteira estaria lá. O ofendido, desesperado para reaver a carteira com seus documentos, o acompanhou. Chegando lá, os dois muito embriagados, o ofendido insistiu para que o autor do fato devolvesse a carteira. Joaninha então baixou o zíper e colocou seu membro para fora, dizendo que só devolveria a carteira se o ofendido fizesse uma sustentação oral... Desesperou-se, pois nunca tinha feito aquilo. Mas diante da coação, e querendo a carteira de volta, submeteu-se. Quando “acabou tudo”, Joaninha, para a revolta do ofendido, não devolveu a carteira. Indignado, procurou os policiais e contou tudo que havia acontecido. Ao invés de prenderem logo Joaninha, começaram a rir e a chamá-lo de “Chupão”. Numa revista, nada foi encontrado com Joaninha. A notícia se espalhou e agora toda a cidade o chama de Chupão. O ofendido não é homossexual. Quer Joaninha punido e uma solução para isso, pois não agüenta mais o apelido.”
Quando olhei para o promotor, estava cobrindo o rosto com os autos de um outro processo e morrendo de rir.
Perguntei ao ofendido:
- Qual a solução que o senhor imagina para esse caso?
Para completar a sina do rapaz, o defensor dativo acenou para mim e emendou, dirigindo-se ao ofendido antes dele responder:
- Quer um conselho para solucionar isso?
- Sim, doutor - disse o ofendido.
- Mude de cidade, meu filho...

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