30 de out. de 2010

Folha de Washigton

Do Diário do Centro do Mundo por Paulo Nogueira
É UM VEXAME para a Folha que o melhor artigo que o jornal publicou sobre as eleições venha de Washington.
Insuspeito de petismo, lulismo ou o que mais de queira, Mark Weisbrot, codiretor do Centro de Pesquisa Econômica e Política, baseado em Washington, jogou um pouco de luz na escuridão que emana das páginas mentalmente tumultiadas e enviesadas da Folha na cobertura das eleições.
O artigo está na página 8 do caderno de eleições.  Deveria ser decorado pela redação da Folha. Mesmo quem é contra Dilma aprende com artigos como o de Weisbrot como se deve argumentar: com fatos, números, pesquisa, trabalho.
Não com alarido.
Weisbrot nota as semelhanças da estratégia de Serra com as dos republicanos americanos, enormes particularmente no uso da religião para tentar influenciar os eleitores crédulos e crentes.  O grande fato, aí, foi a malandragem de Monica Serra ao dizer que Dilma é a favor de “matar criancinhas”. “A campanha de Serra tentou até um ataque ao estilo republicano à política externa de Lula, com acusações de brandura no trato a ditadores, terroristas e traficantes de drogas”, disse Weisbrot. “Nada disso pegou.”
Ele imagina que Serra, sendo economista, fugiu de temas econômicos por não ter o que falar aí. “A renda per capita cresceu 23% de 2002 a 2010, antes apenas 3,5% entre 1994 e 2002. O desemprego oficial bateu novo recorde ao cair a 6,2%”.
Weisbrot, por fim,  afirma que “os eleitores indecisos queriam saber se Serra faria por eles algo de melhor do que aquilo que o PT realizou. Porque não soube lhes reponder, Serra perdeu seus votos”.
É esse tipo de artigo que contribui para debates ricos. Os jornalistas da Folha, se pensam parecido, provavelmente tenham medo de escrever um texto daqueles e ser tachados de petistas, com o que seu emprego estará no pano verde.
E os que pensam diferente deveriam aprender com ele como se apóia uma idéia ou um candidato.
Você pode fazer um artigo inverso  – a favor de Serra – com argumentos potentes. Weisbrot subestima, por exemplo, a estabilidade conseguida por FHC, por exemplo. Também ignora o efeito positivo de boa parte das privatizações, a começar pela das telecomunicações. Conseguir um telefone era uma proeza na época das telefônicas estatais. A força da economia brasileira ao enfrentar a crise financeira do final da década passada deriva, em boa parte, do Proer — atacadíssimo pelo PT na oposição. Os bancos brasileiros estariam bem mais vulneráveis sem o Proer.
O que você não pode fazer, como jornalista, é apoiar Serra com o mesmo expediente que ele próprio tem usado – ataques baixos, alguns deles canalhas, de extração “republicana”, como bem percebe Weisbrot.

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