26 de out. de 2010

Mais sobre a quebra de sigilo (evidências do fogo amigo)

“Follow the money…” por Paulo Moreira Leite na Época

O último mistério sobre a quebra de sigilo fiscal de integrantes do PSDB envolve a data da operação: outubro de 2009.
A Polícia Federal já sabe quem encomendou as declarações de Imposto de Renda de integrantes da cúpula do PSDB e da família de José Serra. Foi o jornalista Amaury Ribeiro Junior, repórter premiado, com passagem por grandes órgãos da imprensa do país.
Amaury encomendou as declarações e pagou por elas. A Folha diz que pagou R$ 12 000. O despachante que fez o trabalho diz que recebeu R$ 5 000. Também se sabe que, em junho de 2010, a Folha informou que essas informações faziam parte de um dossiê que um grupo de petistas preparava como arma de campanha.  O dossiê jamais foi utilizado mas o escândalo não terminou.
O que não se sabe é quem pagou a Amaury pelo serviço. Em quatro depoimentos à Polícia Federal, ele disse que em outubro de 2009 trabalhava para o jornal Estado de Minas, o de maior circulação no Estado. É um jornal que possui uma relação de proximidade com o governador Aécio  Neves que não é segredo para ninguém.
Em determinado momento da guerra tucana entre Aécio e José Serra pela indicação presidencial, o jornal chegou a alvejar o governador de São Paulo com um dos mais agressivos editoriais da história da imprensa brasileira. Sua falta de disposição para divulgar notícias negativas sobre o governo Aécio é tão conhecida que adversários do governador espalham que recentemente o jornal omitiu até greve da Polícia Militar.

Amaury alega que investigou Serra e pessoas próximas ao então governador de São Paulo como parte de um trabalho para auxiliar Aécio no confronto contra o rival paulista. Chegou a dizer, à Polícia Federal, que um delegado próximo a Serra estava procurando informações que poderiam prejudicar  Aécio — e que era preciso preciso proteger o governador mineiro. Amaury não publicou uma reportagem sobre Serra e seus aliados. Mas diz que entregou um relatório à direção do jornal e logo depois deixou o emprego.
Caso se possa demonstrar a veracidade deste depoimento, Amaury fala de uma situação escabrosa. Segundo diz, o jornal foi utilizado por um governador de Estado como cobertura para fazer um trabalho de espionagem contra um adversário. Nem todas as pessoas habituadas a estudar o envolvimento da mídia com autoridades são capazes de imaginar uma complicação desse tipo, não é?
Meses atrás, quando soube dessa versão de Amaury Ribeiro, cheguei a dar uma gargalhada. Continuo cético. Mas estou curioso.
Ele declarou que o jornal pagou suas despesas para fazer o levantamento. Se isso é verdade, ele estava a serviço do Estado de Minas. Se entregou o relatório, e não uma reportagem, faz sentido acreditar que estivesse numa operação subterrânea dentro da guerra tucana. O jornal não queria informar o público mas prestar serviço confidencial a determinada autoridade.
Não é difícil comprovar quem pagou despesas de viagem e de hotel nem a existência de um relatório. Nenhuma descoberta irá tornar os arapongas petistas mais inocentes. Mas poderá acrescentar ângulos novos ao episódio.
Como diz o mandamento número do bom jornalismo:  “Follow the money…”

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