7 de out. de 2010

Do tudo ao nada

Do blog do Alon

O PT está entre o céu e o mais absoluto inferno. O céu não virá tão bonito quanto a ideia original, dada a força da oposição nos estados. Mas o inferno seria de lascar

Em seu já célebre discurso de 18 de setembro em Campinas (SP), quando anunciou que “nós somos a opinião pública”, Luiz Inácio Lula da Silva produziu uma passagem reveladora. Na época passou meio despercebida.

- Vocês sabem que tucano come até filhote no ninho. Quando o (Aloizio) Mercadante se eleger governador, vou criar um Bolsa Família para os tucanos não passarem fome.

Lula é bom de palanque, e sempre é preciso dar um desconto. Mas o trecho lança luz sobre a essência da política. Nas eleições, tribos entram em luta pelo domínio do aparelho de estado. Vencida a eleição, o grupo terá poder sobre orçamentos e cargos, essenciais para alimentar os exércitos vencedores.

Sempre foi assim, desde que a política e a guerra eram uma coisa só. Nunca mudou na essência. Se hoje há normas a civilizar a repartição do butim, ele continua sendo repartido. Com a possibilidade de alternância, abre-se a porta para um revezamento.

Qual era a situação das tropas antes do primeiro turno? A fortaleza federal estava teoricamente bem defendida pelas forças petistas, que acossavam os dois maiores redutos do inimigo, São Paulo e Minas Gerais.

Em Minas, montou-se uma mega aliança contra os tucanos. Se não em número de partidos, na amplitude do arco simbólico. A lista impressiona. Lula, José Alencar, Dilma Rousseff, Fernando Pimentel, Patrus Ananias, Hélio Costa.

Nas terras paulistas a tática foi diferente. O PT investiu na fragmentação do campo adversário, para fugir da bipolarização e tentar provocar um segundo turno.

Mas não deu, o PSDB garantiu já no primeiro turno mais quatro anos no comando de suas principais máquinas político-eleitorais. E a incerteza mudou rapidamente de endereço.

Dilma foi bem numericamente no primeiro turno, ficou perto de ganhar a eleição e precisa agregar quantitativamente menos do que José Serra. Mas suponhamos, só para especular, que o PT perca a disputa presidencial no segundo turno. Onde suas tropas encontrariam abrigo?

Ao contrário do PSDB, o PT venceu no domingo passado em unidades da federação com relativamente pouca autonomia diante do governo federal, estados que estão longe de ser potências orçamentárias.

O PT conseguiu boas bancadas na Câmara dos Deputados e do Senado, mas se derrapar no segundo turno será perfeitamente possível ao novo governo tucano articular uma maioria. Bastará atrair o grosso da base de Lula/Dilma e isolar o petismo.

Não deverá exigir muito esforço. Será quase natural. O que o PT teria a oferecer aos aliados para impedir que mudassem de lado?

O PT está entre um certo céu e o mais absoluto inferno.

O céu não virá tão bonito quanto a ideia original, dada a força da oposição nos estados e a fragmentação partidária no Congresso, que verá em 2011 aumentado seu poder de barganha.

Mas o inferno seria de lascar. O PT regrediria em peso político, e com um detalhe: antes de chegar ao Planalto a legenda tinha mais poder na esfera local do que tem hoje.

Lula operou esta eleição na base do tudo ou nada. Conseguiu matar politicamente alguns adversários não tão fortes, mas quem sobreviveu está com musculatura.

Já para o PT, o tudo ficou fora de alcance, e agora o partido foge de ser colhido pelo nada. Tem uma chance razoável de conseguir, mas eleição é eleição.

Piorou

Lula livrou-se de um grupo de senadores que discursavam contra ele. Ficaram fora Heráclito Fortes, Mão Santa, Artur Virgílio. Livrou-se ainda de senadores que discursavam pouco e nunca lhe criaram problemas reais, como Tasso Jereissati e Marco Maciel.

Em compensação, o possível governo Dilma receberá de presente um Senado bem mais perigoso, com o PMDB em posição de dominância incontestável e a oposição reforçada por políticos craques em falar macio e operar nos bastidores.

Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta quinta (07) no Correio Braziliense

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