17 de jun. de 2011

Usar Itaipu como arma seria “tiro no pé”, diz especialista

Do IG

Uso bélico de Itaipu requer destruição da usina e danos afetariam além da Argentina, Brasil e Paraguai

Para o professor Luiz Pinguelli Rosa, diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a construção da hidrelétrica de Itaipu visando seu eventual uso militar, com a possibilidade de inundar a Argentina numa guerra, “seria estupidez”. De acordo com ele, o rompimento da barreira também destruiria territórios brasileiros e paraguaios. Além de causar enorme prejuízo financeiro e estrutural para o País, uma vez que cerca de 25% da energia elétrica consumida no Brasil é proveniente da usina.

“Fazer Itaipu com intenção militar seria uma estupidez, um tiro no pé. Em primeiro lugar, há brasileiros por perto. Não há como atingir só a Argentina. Afetaria também o Brasil e o Paraguai. Em segundo, seria preciso destruir a barragem, pois mesmo abrindo todas as comportas não haveria volume de água suficiente para inundar as cidades. E destruir a barragem, além de enorme prejuízo econômico, também não seria fácil, nem com explosivos”, disse o professor.
Foto: Google MapsAmpliar
No detalhe, hidrelétrica de Itaipu. Na imagem, distância entre a usina e a capital da Argentina, Buenos Aires
A ideia do uso militar de Itaipu para inundar a Argentina foi ressuscitada pelo deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ). Em entrevista ao Poder Online, ele disse que a abertura de certos documentos do governo poderia revelar segredos com potencial de criar atritos entre países.
Funcionários da Usina de Itaipu ouvidos pelo iG, que não quiseram se identificar, também rechaçaram a possibilidade de uso bélico da usina. “Isso é uma bobagem que falavam na época da construção, havia tensão entre as duas ditaduras militares, a Argentina falava que seria uma bomba-hídrica, mas essa possibilidade não existe”, disse.
Acidente

No caso de um acidente em que a barragem fosse rompida, haveria prejuízos tanto para o Brasil quanto para o Paraguai e Argentina. De acordo com Pinguelli, contudo, não é possível prever a dimensão exata do dano que seria causado a cada uma das nações.
É certo que as cidades de Foz do Iguaçu e Ciudad del Este (Paraguai) seriam as primeiras afetadas por um tromba d’água que despencaria de cerca de 115 metros. A Ponte da Amizade, que liga o Brasil ao Paraguai ficaria submersa, havendo a possibilidade da água invadir o rio Iguaçu, que desemboca no rio Paraná e se chocar contra as cataratas.
Seguindo para a Argentina a correnteza perderia força devido à profunda da calha do Rio Paraná. Para se pensar em danos à capital Buenos Aires, seria preciso que, além de Itaipu, a barragem de Yaciretá, a 400 km da usina brasileira, também se rompesse. Como a planice abaixo da hidrelétrica, na fronteira entre Argentina e Paraguai, é alagável, poderia haver transbordamento do Rio da Prata.
Documentos
O Itamaraty disse que não iria comentar as declarações do deputado Bolsonaro sobre a possibilidade de documentos da ditadura darem conta de um possível uso militar de Itaipu. O ministério da Defesa foi procurado mas não se pronunciou até o fechamento desta matéria.
Itaipu
A usina hidrelétrica de Itaipu custou cerca de US$ 27 bilhões e entrou em operação em 1982. Foi financiada por organismos internacionais, mas com 100% de garantia dada pelo Tesouro Nacional Brasileiro. Pelo tratado estabelecido em 1973, anteriormente às obras, o Paraguai amortizaria sua parte com a venda de energia para o mercado brasileiro. Já no caso do Brasil, a receita proveniente para pagar a construção viria das tarifas de energia cobradas no mercado doméstico.

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