9 de nov. de 2010

Só a morte detém os políticos brasileiros

Por Paulo Nogueira no Diário do Centro do Mundo

Escrevi um artigo sobre o legado de Margaret Thatcher para a próxima edição da Exame.
É uma das figuras capitais do século 20.  Thatcher não apenas captou o zeitgeist, o espírito do tempo. Ela fez o zeitgeist. Até Fernando Henrique Cardoso, com sua plataforma privatizante, é um filho de Thatcher. É triste vê-la hoje seofrendo de demência, chamando pelo marido morto Dennis, que lhe deu o sobrenome e as condições financeiras necessárias para a carreira política.
Mas falo em Thatcher para discutir outra questão: por que os políticos brasileiros têm tanta dificuldade em se aposentar? Isso entope a renovação. Quércia, Sarney, Maluf. Serra agora.
Parece que só a morte os detém. Foi assim que ACM se despediu da política, por exemplo: num caixão.
É ruim para o país.

No Reino Unido, a renovação é muito mais intensa. Ninguém briga com as urnas. Thatcher substituiu, como líder do Partido Conservador, Edward Heath, que acabara de ser derrotado nas eleições nacionais. Pouco depois, ela se tornaria primeira ministra e faria história. Onze anos mais tarde, os conservadores entenderam que também o tempo dela passara. Thatcher foi derrubada. Passada uma geração, o conservador que está no poder na Inglaterra tem 42 anos, e trouxe uma visão de “capitalismo com compaixão”. David Cameron é o nome.
Entre os trabalhistas aconteceu o mesmo. Nos últimos anos, o Partido Trabalhista fez dois primeiros ministros, Tony Blair e, mais recentemente, Gordon Brown. Brown foi batido nas eleições de maio de 2010. A resposta imediata dos trabalhistas foi buscar uma nova liderança. Ed Miliband, 40 anos, venceu a disputa no partido. Ed, The Red, como alguns o chamam pelo seu suposto esquerdismo. Vi, numa fala de Miliband, jovens militantes trabalhistas chorando quando ele falou nas causas que deveriam nortear a luta política trabalhista. Solidariedade, combate à desigualdade etc. Brown já é história. Se o discurso fosse dele, as pessoas bocejariam.
É bom que haja esse tipo de movimento.
No Brasil, o que leio é que Serra talvez tenha participação no governo de Alckmin em São Paulo. É triste, tanto mais porque é apenas mais um caso de prolongamento insano de carreira política entre tantos outros.
Retirar-se é, frequentemente, um gesto de grandeza, mas nossos políticos parecem não saber disso.

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