19 de nov. de 2010

Caso de saúde pública


Edmilson Lopes Júnior no Terra Magazine
De Natal (RN)
Uma epidemia, que se espalhou das capitais nordestinas para as pequenas cidades do interior. Não me refiro à dengue. Trata-se do consumo do crack. O Nordeste vive hoje, em relação aos efeitos devastadores dessa droga, o que São Paulo enfrentou na primeira metade da década de 1990. É um problema de segurança, sim, mas também de saúde pública. Jovens e adolescentes, em sua quase totalidade pobres e residentes nas franjas periféricas, são as vítimas primeiras. Ao seu lado, impotentes e derrotados, os seus familiares.
Na campanha eleitoral que terminou, pelo menos no Rio Grande do Norte, o crack foi abordado à exaustão. Isso não significa que tenham sido apontadas propostas concretas para o seu enfrentamento. Mesmo quem fez do combate à droga o seu mote de campanha, apresentou muito pouco de substancial. Tudo se passando como se o problema pudesse ser enfrentado com as mesmas receitas ineficientes de sempre: aumento da repressão e encarceramento dos usuários.
Mas, mesmo assim, essa abordagem primeira, mesmo que superficial e pautada pelas últimas notícias dos telejornais locais, já é alguma coisa. Até bem recentemente, apenas os centros terapêuticos ligados às igrejas evangélicas respondiam aos dramas das famílias desesperadas diante do envolvimento de seus membros mais jovens com a droga. Talvez esse uso político do combate ao consumo do crack, mesmo que dominado pelo viés da mundialmente fracassada "guerra às drogas", possa ser o anúncio de que os atores políticos locais começam a sair da passividade de um problema dos mais graves.

Os efeitos dessa "guerra" e da dinâmica perversa do mercado da droga, especialmente nas cidades da região metropolitana de Natal, traduzem-se no aumento do número de homicídios entre jovens e adolescentes e no ressurgimento de grupos de extermínio. Estes últimos são responsáveis por chacinas e pela emergência de um clima de medo que assusta até veteranos policiais. Não por acaso, as edições dos jornais locais das terças-feiras destaquem sempre os "balanços" das "ocorrências policiais" nos finais de semana. Geralmente, em média, temos meia dúzia de assassinatos, atribuídos, de bate pronto pelas autoridades de plantão, a questões relacionadas à venda do crack. O perfil das vítimas é o de sempre: jovens e adolescentes pobres.
Em trabalho de pesquisa ainda em andamento, o Professor Flávio Henrique, do Departamento de Estatística da UFRN, apresenta dados que confirmam esse cenário. Ao estabelecer uma relação entre as taxas de homicídios nas regiões metropolitanas de Natal e Recife, o pesquisador verificou que, enquanto na capital pernambucana, a tendência é de queda da taxa de mortes por causas externas (dentre as quais se incluem os assassinatos), em Natal, a tendência é de alta. "Na Região Metropolitana de Natal, apesar do nível da mortalidade por homicídio ser bem menor do que na Região Metropolitana de Recife, a tendência de crescimento é evidente, sobretudo, a partir de 2004", afirma ele. O crack é o diferencial nessas tendências em oposição.
A expectativa agora, especialmente se levarmos em conta que a Governadora eleita do RN, a Senadora Rosalba Ciarline, que destacou os problemas relacionados ao consumo do crack em sua campanha, inicie a sua gestão apontando políticas concretas. Ou, pelo menos, assuma uma posição de mobilização da sociedade local para a construção de políticas consistentes e eficazes no enfrentamento das mazelas diversas produzidas por essa terrível droga em território potiguar.

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