15 de nov. de 2010

Chama a polícia


Cláudio Lembo no Terra Magazine
De São Paulo
A democracia exige tolerância e compreensão. Tolerância para se conviver com o outro e compreensão para entender posições e formas de ver e viver o mundo.
A nossa sociedade sempre se dividiu entre aqueles que tudo podiam e aqueles a quem apenas cabia obedecer. É difícil para alguns compreender que os tempos mudaram.
A cada dia que passa, mais e mais avançam todos os segmentos sociais e de maneira mais sensível aqueles a quem, até pouco tempo, cabia apenas subordinar-se. Aceitar passivamente as ordens superiores.
Os costumes mudaram. Os velhos ensinamentos, aqueles que apontavam para um mundo extraterreno sempre que a dor e a fome atingiam a muitos, deixaram de conter substância. Perderam as raízes.
Os velhos curas - padres de aldeia ou de bairros - já não podem preservar um sermão de dominação. A sociedade se moveu e, dentro de um regime democrático reivindica. Exige. Quer.

Aqui e ali, ainda se notam traços de agressão social em muitos setores. A última campanha foi rica na apresentação deste grave sintoma.
Muitos demonstravam profunda adversidade a candidatos e partidos mais afinados com os interesses populares. Acreditavam que a vitória eleitoral destes poderia conduzir a situação de entropia.
Grave erro. Hoje, só pode levar a rupturas o esquecimento das reivindicações mínimas dos setores carentes. Aqueles que ainda não romperam o patamar da miséria extrema.
Felizmente, nos últimos anos avançou-se muito. Romperam as amarras da miséria absoluta e muitos atingiram situação mínima de dignidade. Falta muito ainda. Mas se houver prosseguimento, tudo mudará.
Resta uma tragédia nacional, combatida, mas permanente em sua atuação. Trata-se da corrupção. É hábito arraigado na sociedade, especialmente entre os mais aquinhoados.
Desejam sempre levar vantagem. Apropriar-se do patrimônio alheio de natureza pública ou privada. Alguns episódios - como os da última semana - entristecem os que acreditam na melhora dos costumes sociais.
Nessa última semana, um banqueiro foi condenado, após muitos anos de processo judiciário ainda passível de recurso. E, concomitantemente, outros banqueiros avançavam sobre bens de clientes.
Não é possível que pessoas encarregadas de finanças alheias ajam como malfeitores de estrada. Este agir fere o mais sensível elemento do capitalismo: a confiança.
É essencial da atividade bancária a confiança que o cliente deposita no banqueiro, quando este fere este princípio - o da confiança - age de maneira desastrada. Não merece qualquer respeito.
As explicações das autoridades monetárias não convencem. Sempre há desculpas pouco verossímeis. Fala-se em impossibilidade ou falta de competência para analisar todos os segmentos contábeis.
Balela. Há uma desmedida confiança nos operadores financeiros por parte das autoridades monetárias. De tanto conviverem, tornam-se inseparáveis e surge uma pseudo confiança.
A palavra do banqueiro passa a valer mais que a verdade real e aí começam os desfalques contínuos. A autoridade monetária não fiscaliza. Acredita. De fiscal, torna-se carneirinho de presépio.
A sociedade gostaria de ver, nos casos de violação da devida confiança, o Ministério Público agir com desenvoltura e eficiência. A Polícia Federal recolher toda a prova das falcatruas. A Receita Federal ser implacável. Não podem as autoridades, sob o pretexto de áreas de competência, deixarem de agir em conjunto. Uma grande operação, com a utilização de todos os elementos disponíveis, se impõe.
A sociedade está cansada de ver "espertos" livremente operando. É hora de uma ação eficaz. O presidente da República, no fim de seu mandato, tem a obrigação de preservar seu nome e seu governo.

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