6 de nov. de 2010

Hora de agir III

Do Blog do Favre

Para empresários e executivos brasileiros, o governo deve agir imediatamente para proteger o real da enxurrada de dólares que inundará o mercado, após a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de injetar US$ 600 bilhões para ativar a economia do país. Em vez de esperar por decisões coordenadas no âmbito de organismos multilaterais, como o G-20 (grupo das maiores economias), o Brasil deve adotar já medidas que inibam uma valorização do real ante o dólar.
O setor produtivo defende uma maior tributação sobre o capital estrangeiro que chega ao país em busca de ganhos especulativos no mercado financeiro, inclusive a cobrança de imposto de renda (IR). Também propõe a adoção de uma quarentena, antes da repatriação desses recursos aos países de origem.
— A situação do câmbio é extremamente difícil, sobretudo para a indústria, e defendo o controle de capitais na entrada, mas de forma seletiva, e sou favorável à quarentena — diz Adilson Primo, presidente da Siemens no Brasil.
O maior controle sobre os fluxos de capital externo, porém, deve ser seletivo, preservando os investimentos produtivos, concordam os empresários.

A questão é definir que mecanismos usar para diferenciar os dois tipos de capital.
Robson Braga de Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), vê risco de desindustrialização e defende ações drásticas.
— A situação está se agravando e só o IOF não resolve. Temos que ver, por exemplo, a questão do imposto de renda, aplicando-o sobre o capital estrangeiro. Se o brasileiro paga IR, não há motivo para o capital estrangeiro não pagar — diz Andrade, que também é favorável à quarentena.
Coutinho: país não pode ser refém de EUA e China
Em estudo intitulado “O que esperam as autoridades para agir fortemente no câmbio?”, divulgado anteontem, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) observa que o Brasil vive um paradoxo: enquanto o país consegue “gerar os estímulos ao consumo e ao investimento que tanto faltam às economias centrais (…)”, “as políticas monetária e cambial vêm impedindo o espraiamento dos benefícios dessa situação por toda a economia”.
Reflexo disso são os dados do IBGE sobre a produção industrial, que vinha se desacelerando e no último trimestre (julho-setembro) caiu 0,5% ante o segundo trimestre.
— O governo está sensível à questão cambial, mas precisamos de uma ação mais enérgica — diz Rogério César de Souza, economistachefe do Iedi, autor do estudo.
Para o ex-ministro do Desenvolvimento e copresidente do Conselho da BR Foods, Luiz Fernando Furlan, o quadro tornou-se tão complexo que o câmbio, que antes era visto como “uma choradeira dos exportadores”, hoje é uma preocupação generalizada. Horácio Lafer Piva, expresidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) e membro do Conselho da Klabin, concorda e vê como complicador o fato de a situação do câmbio não depender exclusivamente do governo brasileiro.
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disse ontem que as autoridades brasileiras estão atentas ao problema e têm instrumentos para evitar a apreciação continuada do real. Para ele, a quarentena é uma opção, mas o governo deve buscar medidas menos agressivas inicialmente e depois, se for necessário, ações mais fortes.
Segundo Coutinho, o Brasil não pode ficar refém das políticas cambiais protecionistas de países como Estados Unidos e China. Já o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, disse que a injeção de recursos anunciada pelo Fed vai gerar mais distorções nos mercados mundiais.
Após cair 1,35% anteontem, o dólar fechou em leve alta ontem, de 0,11%, a R$ 1,680. Na semana, a moeda americana perdeu 1,35%. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, fechou em queda de 0,53%, aos 72.606 pontos.
A caderneta de poupança fechou outubro com captação de R$ 2,561 bilhões, recorde para esses meses, mas quase 50% inferior ao resultado visto em setembro (R$ 4,847 bilhões), quando houve antecipação de metade do décimo terceiro salário a aposentados e pensionistas do INSS.
Segundo o BC, o saldo da aplicação chegou a R$ 364,598 bilhões no mês passado.

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