Felicidade nacional bruta
Joseph Stiglitz, esse prêmio Nobel de Economia que é uma espécie de dom Quixote da economia moderna, sugeriu, faz um ano, pouco mais ou menos, que o tal de PIB (Produto Interno Bruto, medida da produção econômica do país) incorporasse outros elementos ligados ao bem estar e ao desenvolvimento sustentável.Seria o que chamei, em colunas anteriores para a Folha, de FIB (Felicidade Interna Bruta), muito mais importante do que saber quanto aumentaram (ou diminuíram) a produção de carros, de soja, as importações e as exportações --e por aí vai.
Pois bem, o presidente Nicolas Sarkozy, esse mesmo que hoje está sob fogo por estimular todos os demônios xenófobos e por procurar uma saída para a crise pela arqui-percorrida via do corte de benefícios sociais, teve coragem para incorporar o chamado Relatório Stiglitz às contas nacionais.
Criou até uma comiss
ão, presidida pelo próprio Stiglitz, para saber como tornar operacional essa nova maneira de medir a economia. Pois bem: no mês que vem, segundo anuncia o "Figaro", o Insee (Institut national de la statistique et des études économiques), que vem a ser o IBGE francês, começará a publicar um dossiê sobre as condições de vida, levando em conta as diferentes dimensões preconizadas pelo relatório do Nobel.
ão, presidida pelo próprio Stiglitz, para saber como tornar operacional essa nova maneira de medir a economia. Pois bem: no mês que vem, segundo anuncia o "Figaro", o Insee (Institut national de la statistique et des études économiques), que vem a ser o IBGE francês, começará a publicar um dossiê sobre as condições de vida, levando em conta as diferentes dimensões preconizadas pelo relatório do Nobel.
O jornal antecipa dados bem interessantes. Na área social, por exemplo, calculou-se "o efeito redistributivo do financiamento público da saúde e da educação". Conclusão: tais serviços (assegurados pelo Estado e de qualidade incomparavelmente superior na comparação com o Brasil, por mais que os franceses deles reclamem) representaram 23% da renda disponível dos lares.
Ou seja, cada família francesa teria que gastar 23% mais, se fosse obrigada a recorrer a serviços privados de educação e saúde.
Segunda conclusão: a brecha entre a renda disponível dos 20% mais ricos e a dos 20% mais pobres passaria dos atuais três vezes mais para cinco vezes mais, sem serviços públicos de saúde e educação.
Acho que não preciso dizer o quanto a classe média brasileira, que recorre à escolas privadas para os filhos e a seguro-saúde também privado para a família toda, se beneficiaria se pudesse confiar no setor público.
Fico muito curioso de saber o quanto aumentaria o bem-estar dos mais pobres, condenados a pôr os filhos numa escola pública em geral fraca e a enfrentar as filas dos hospitais públicos, se o Brasil tivesse a coragem de introduzir nas sua contabilidade a FIB inventada por Stiglitz.
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