26 de out. de 2010

Exorcismo Judicial

Comentário: Ordem judicial se cumpre, não se discute!
Do blog de Rosivaldo Toscano Jr.

Numa Comarca da Região do Seridó, há muitos anos, instalou-se uma igreja evangélica ao lado do Fórum.

Com finalidade de atrair clientes/fiéis o pastor utilizou pesadamente a propaganda. Com potentes alto-falantes, procurava fisgar pelos ouvidos. O discurso era o tradicional:
- Se você perdeu o emprego, sua mulher lhe deixou, está viciado no álcool e cheio de dívidas, venha para cá e aceite Jesus. Ele vai lhe dar a graça e a sua vida vai mudar.
Acontece que durante o turno da manhã ocorriam as audiências. Não se sabe bem se foi empolgação ou outro motivo, mas o pastor levantou o tom em todos os sentidos. O volume cada vez mais alto e se iniciaram sessões de exorcismo em plena luz do dia e horário comercial.
O magistrado Raimundo Carlyle, inicialmente apenas incomodado, mas respeitando a liberdade de culto, mandou um recado ao pastor para que baixasse o volume nas horas em que as audiências ocorriam. Até uma tabela com horários lhe foi entregue.
Os dias se passaram e parece que o efeito foi o contrário. Cada dia mais volume e excitação do chefe da filial de Deus na terra. Pôs o magistrado a redigir um ofício. Nele expôs que até as partes reclamavam do barulho e não havia concentração para despachar com tranqüilidade no fórum. Em vão.
Certa manhã. Audiência criminal.
– Diga-me o que aconteceu – dirigiu-se o juiz para a testemunha.
Ao fundo, num volume que fazia parecer que o pastor estava gritando dentro da própria sala de audiências:
– Sai, satanás! Sai desse corpo. Em nome de Jesus!
E a testemunha:
– Doutor Carlyle, não consegui ouvir o que o senhor falou.
– Eu disse...
– Saí! Saí! O sangue de Jesus tem poder! – retumbava na sala a voz do intermediário do Todo-Poderoso.
Na igreja, uns trinta fieis, todos ajoelhados, mãos para o alto ou em direção ao altar. Uns gemendo, outros chorando, olhos fechados e gritando chavões religiosos. No altar de dois batentes, o corpo de uma jovem se debatendo no chão e o pastor tentando, com dificuldade, manter a mão sobre a testa da adolescente.
- Sai, demo, beuzebu, sete capas. Sai agora em nome do Senhor!
De repente entra um ser alto, forte e todo de preto. Sua capa, ao olhar dos que estavam em vias de êxtase, pareceria com o da própria figura do coisa-ruim. E ele brada, com uma voz ensurdecedoramente grave e irritada:
- Dá pra parar com essa esculhambação?!
Cadeiras pra todo lado, fieis saindo pela janela, gritaria total. O apocalipse chegou àquele local. Até a jovem que se debatia ao chão despertou assustada e correu.
Foi a primeira vez que se viu um juiz exorcista!

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