E o povo dos tucanos?
Por PAULO MOREIRA LEITE na época
O PSDB discute seu futuro.
Como sempre, as discussões políticas, no Brasil, começam pelo lado errado — a partilha de cargos em vez do debate de idéias. A convicção é que os cargos comandam as idéias. Não é verdade.
Como sempre, as discussões políticas, no Brasil, começam pelo lado errado — a partilha de cargos em vez do debate de idéias. A convicção é que os cargos comandam as idéias. Não é verdade.
O PSDB tornou-se um tri-derrotado em campanhas presidenciais por falta
de idéias coerentes para governar o país — e não por falta de nomes para assumir o governo.
Por mais que se queira despolitizar o debate, uma campanha presidencial não é um concurso de miss mas uma disputa entre projetos.
Os candidatos tornam-se melhores ou piores na medida em que se mostram capazes de encarnar projetos que a população enxerga como os mais adequados para seus interesses e também para o futuro do país. Estes projetos podem ser pura poesia ou demagogia desacarada mas a população precisa acreditar neles para votar. Caso contrário, olha para o concorrente.
Se você acha que estou idealizando a campanha, pergunto: será que Dilma Rousseff era mesmo tão competente, tão desembaraçada e tão rapida em suas intervenções que ninguém poderia vencê-la? Ou a população votou nela porque considerou que representava um projeto — os tucanos dizem que era só fantasia mas isso é outra questão — encarnado pelo Lula?
O problema real do PSDB é sua dificuldade de falar ao povo brasileiro em seu conjunto. O partido não tem mensagem para os mais pobres e os votos da sucessão presidencial mostraram isso.
O PSDB adora dizer que o Brasil é um país dividido — é uma forma de
supervalorizar sua votação, já que a vantagem de Dilma somou 12 milhões
de votos — mas cabe notar que a divisão não é igual para todos.
Mesmo nos lugares onde foi derrotada, Dilma Rousseff teve uma votação
respeitável. Perdeu no Sul mas havia vencido no estado maior, o Rio
Grande, no primeiro turno, onde o PT fez o governador. Foi vencida em
São Paulo, mas não foi um vexame. Ganhou em Minas Gerais e no Rio de
Janeiro, por margens imensas. Tanto é assim que mesmo sem os votos do
Nordeste Dilma teria sido eleita.
O Nordeste é importante pelo seguinte. Em nenhum lugar o PT teve votações tão magras como o PSDB no Nordeste, numa relação de 70 a 30. Nenhum partido pode pretender governar o país com uma votação tão fraca numa região politicamente tão poderosa.
O mesmo vale para a posição dos eleitores na sociedade. Se você olhar para a votação por faixa de renda e de educação, de genero e de cor, irá descobrir o seguinte: Dilma venceu em todas as faixas. Só ficou atrás, por pequena margem, entre brasileiros com diploma universitário.
Esta é a questão: desde o Plano Real que o PSDB não tem uma resposta para os pobres e, assim, não consegue falar ao povo. Não tem proposta para distribuir renda nem para amenizar as distancias regionais. Não tem “projeto”.
Nesta situação, mesmo propostas isoladas da campanha presidencial, como o salário mínimo de R$ 600 ou o aumento de 10% nas aposentadorias perdem credibilidade. O eleitor até gosta — mas desconfia porque não faz sentido com o conjunto do discurso, com o “projeto.”
Com essa carência, o futuro fica difícil, não é mesmo?
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