O governo britânico, a exemplo do francês e do canadense, decidiu incluir o que chamo de "felicidade nacional bruta" nas suas medições econômico-sociais. Significa que o tal PIB (Produto Interno Bruto, medida da produção econômica de um país) deixará de ser o número mais citado.
Na semana que vem, o governo acionará o estatístico Jil Matheson para que elabore as perguntas que permitirão estabelecer o índice de felicidade (ou bem-estar). Buscar-se-á também aferir como os cidadãos acham que estão atingindo (ou não) as metas de vida que se fixaram ou imaginaram.
Com o humor tipicamente britânico, Tim Dowling, colunista do G2, o caderno do "Guardian" que corresponde à Ilustrada da Folha, apresentou sua própria lista de perguntas para saber se o leitor é ou não feliz. Entre elas: a quantos passos você está da cerveja mais próxima?
A brincadeira não deixa de tocar em um ponto sério: felicidade é algo tão intangível que, de repente, estar perto da próxima cerveja pode ser mais importante, para quem é do ramo, do que estar perto do próximo hospital, digamos assim.
O mesmo "Guardian" antecipa estudo a ser divulgado em dezembro pelo Jornal Britânico de Relações Industriais que, em tese, prova que dinheiro não traz felicidade - essa tese que sempre usamos quando o dinheiro é curto.
A evidência está dada pelo fato de que, entre 1993 e 2007, os britânicos ficaram 40% mais ricos, ao mesmo tempo em que aumentavam os casos de sintomas neuróticos e desordens psiquiátricas comuns. Diz o jornal que resultados semelhantes apareceram em toda a Europa, especialmente na Holanda e na Bélgica, países que, ao lado do Reino Unido, têm séries estatísticas mais confiáveis sobre saúde mental.
A conclusão do estudo é a de que os europeus se tornaram menos "emocionalmente prósperos" enquanto ficavam mais ricos.
Não sei, não, se dá para cravar uma conclusão tão linear assim. A vida moderna é tão carregada de estresse, por diferentes razões, que é de fato mais difícil prosperar emocionalmente do que em tempos menos complexos, independentemente da maior ou menor riqueza.
Não sei, não, se dá para cravar uma conclusão tão linear assim. A vida moderna é tão carregada de estresse, por diferentes razões, que é de fato mais difícil prosperar emocionalmente do que em tempos menos complexos, independentemente da maior ou menor riqueza.
De todo modo, sempre no "Guardian", há uma história de como um casal associou prosperidade com relaxar e gozar: os dois fizeram reserva e foram jantar no estrelado "L'Autre Pied", restaurante de Marylebone, zona mais ou menos central de Londres. Pediram os três pratos do menu, uma garrafa de champanhe rosada Larmandier (124 libras ou R$ 342), uma de vinho Bollinger safra 1997 (285 libras ou R$ 787) e, de sobremesa, o doce "mil folhas" e uma torta de ameixa.
Antes de comer a sobremesa, saíram para fumar. Não voltaram mais. Penduraram uma conta de 572,74 libras (R$ 1.579).
Antes de comer a sobremesa, saíram para fumar. Não voltaram mais. Penduraram uma conta de 572,74 libras (R$ 1.579).
Há um detalhe que revela, talvez, que os dois são mentalmente ricos: usaram, na reserva, o nome Lupin, que lembra Arsène Lupin, célebre ladrão elegante das novelas de Maurice Leblanc, que eu devorava quando adolescente.
A gerente do restaurante, Leonora Popaj, diz que o casal não despertou a mais leve suspeita. Nem o valor da conta, que corresponde "ao gasto médio" de seus frequentadores.
Já eu, se tivesse que pagar R$ 1.500 por uma refeição a dois, ficaria infeliz para todo o sempre.
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