16 de fev. de 2011

Estados Unidos da América

Por Léo Rosa de Andrade em sua coluna Imperfeições no Notisul
Falar dos EUA, no mais das vezes, tem significado falar mal. Pesquisas de opinião pública indicam variação, nascendo alguma simpatia após Barack Obama. Não tenho dados conclusivos, mas a internet traz informações para quem queira formar opinião. No meu tempo de universitário a questão era problemática. Os EUA propiciavam ditaduras, na América Latina e no mundo. Quando os milicos nacionais deram o golpe de 64, navios de guerra norte-americanos posicionaram-se nas costas brasileiras, para o devido apoio à instauração de um dos regimes mais assassinos que já vivemos. É isso, não tenho ilusões.

Não há inocentes
Está em debate o papel que os EUA desempenham no mundo chamado de árabe, ainda que nem tudo por lá árabe seja. O Egito, no centro do noticioso internacional, trouxe consigo a questão do Oriente Médio.

A região vive em clima conflituoso. Geopoliticamente e economicamente, eu diria que restou como um posto distante dos interesses das grandes potências. Claro, basicamente é o petróleo, mas, por desdobramento, são governos, petrodólares, investimentos, armas. E outra coisa, os negócios servem a todas as partes envolvidas. Não há inocentes.

A alternativa seria o mundo parar
Se o analista for maniqueísta, há mocinhos e bandidos. Mas a coisa é complexa. Sem vender petróleo, o mundo árabe quebra. Sem o mundo ocidental comprá-lo, não há para quem vendê-lo. O ocidente tem sua economia baseada em petróleo. Sem adquiri-lo dos árabes, não haverá o suficiente.
Ambos os lados sabem disso e jogam um jogo delicado. Ninguém vai dizer unilateralmente que as regras serão alteradas e esperar que nada aconteça. Qualquer sujeito com informação média sabe que haveria guerra. A alternativa seria o mundo parar, todavia isso não vai acontecer.

Bem contra o mal? Não: negócios
Voltando ao Egito. Os EUA sustentaram um ditador por trinta anos. Mas que interesses mataram o presidente anterior, dando lugar ao ditador? Parece que religiosos. Alguns grupos islâmicos têm por tarefa conquistar todos às suas crenças, o que é próprio de qualquer religião. Mas esses grupos também objetivam os governos locais, buscando controlar o petróleo, com o fim último de derrotar o grande satã, que são os EUA. Como? Negando-lhes petróleo. Bem, os EUA não gostam da ideia, e, então, financiam quem pensa diferente. E aí, quem tem razão? Calma, nada de bem contra o mal. São negócios, econômicos e religiosos.

Encurralado pela internet
As decorrências da presença dos EUA no mundo (incluindo o Brasil) são, algumas sutis, outras ostensivas, mas todas imbricadas. Parece que a maior colaboração para o movimento social que encurralou o ditador egípcio foi a da internet, mais especificamente, do Facebook. O Facebook é estadunidense, a internet também, como, ademais, o celular e o computador. Imagine o mundo sem isso. Mas tudo poderia ser usado para o bem. Quem define o bem? A internet é um recurso de guerra. É uma invenção militar. Posso ser a favor da internet e contra a guerra? Idealmente, posso. Mas a internet faz parte da lógica da guerra, e provavelmente não existiria sem ela.

Quanto cinismo!
Há um sistema estadunidense que reproduz um sistema estadunidense. Somos consumidos por ele todos os dias. Todos os dias nós o consumimos. Sabemos sua forma e conteúdo. Nós o queremos. Ninguém quer abrir mão dele. Vamos, por exemplo, aos laboratórios dos EUA, aos remédios, alguns testados em condições criminosas, outros nascidos para servir à guerra. Nós os usamos, sem titubear. Então os fins são permitidos? Condenáveis são os meios? Se o meio é ilícito, como posso comprar o produto? Parece-me que a resposta comporta algum cinismo. Os EUA somos todos nós. Ou não?

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