Roberto Almeida e Julia Duailibi, de O Estado de S.Paulo
SÃO PAULO - A declaração do candidato derrotado à Presidência da República, José Serra (PSDB), que em discurso sobre o resultado de anteontem disse que não dava um "adeus", mas um "até logo", causou polêmica entre tucanos e aliados, que reservadamente defendem uma renovação dos quadros da oposição nos próximos anos.
Serra, ao reconhecer a vitória da candidata do PT, Dilma Rousseff, sinalizou que não sairá da vida pública, embora não tenha mencionado se pretende voltar a disputar algum cargo eletivo. Houve repercussão negativa da declaração junto a aliados que se incomodaram com a frase "o povo não quis que fosse agora", usada por ele para falar da derrota.
No bastidor, integrantes do PSDB avaliam que Serra foi personalista na colocação e não promoveu o que deveriam ser os novos passos do partido, no momento em que sofre a segunda derrota na disputa pela Presidência da República. Há uma cobrança pela reconstrução do PSDB e a adoção imediata de uma bandeira para defender, como a reforma política, durante os quatro anos de administração Dilma.
Na visão desses tucanos, o posicionamento de Serra manifestado ontem impede a criação de um novo canal de interlocução com a sociedade, o que, segundo eles, pode ser decisivo para o fortalecimento da legenda e da oposição no País. E questionam qual espaço político será utilizado pelo candidato derrotado para ser um "militante produtivo".
O pano de fundo para o descontentamento interno de parte do PSDB é a briga, ainda discreta, por espaço político na legenda. Os principais protagonistas dessa disputa velada são os serristas e os entusiastas do governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do senador eleito Aécio Neves (MG).
Com musculatura política renovada, Alckmin tem pela frente uma nova geração de tucanos, além de colaboradores tradicionais, que defendem o seu nome como principal liderança no Estado. Do lado mineiro, há descontentamento com a supremacia paulista na escolha dos presidenciáveis, além do entendimento de que São Paulo perdeu a vez com as duas derrotas de Serra e a de Alckmin, em 2006.
Tucanos serristas culpam Aécio pela derrota na eleição, já que o mineiro não conseguiu obter a vitória de Serra em seu Estado, apesar de ter emplacado um "novato" em eleições, o seu ex-vice e agora governador Antonio Anastasia, que conseguiu se reeleger. No discurso de anteontem, Serra não citou Aécio, mas conversou com ele por telefone à noite.
Para tentar evitar que o partido rache, como ocorreu às vésperas da disputa presidencial deste ano, com a indefinição em torno de quem seria o presidenciável, Serra ou Aécio, o presidente nacional do PSDB, senador Sergio Guerra (PE), tem defendido que a escolha do nome que disputará a Presidência da República em 2014 deve ser feita nos próximos dois anos.
Discurso
Para aliados de Serra, o discurso de ontem foi importante para mandar um sinal para o eleitor que o escolheu."Serra demonstrou responsabilidade com as pessoas que votaram nele. Elas não podem ser esquecidas", afirmou o deputado Jutahy Junior (BA). "A realidade é que Serra tem mais de 40 anos de vida pública. Não tem motivo para abandonar isso, o que não significa, necessariamente, disputar um cargo eletivo. Fiquei satisfeito de ver que ele continuará na vida pública. É muito bom ver que alguém como ele está disposto a isso", completou o tucano.
Um dos coordenadores da campanha de Serra, José Henrique Reis Lobo, que reassumirá nesta semana a presidência do diretório municipal do partido, avalia que, em seu discurso, Serra "assumiu a tarefa de ser uma das lideranças da oposição". "Ele vai ser uma das grandes expressões e um oráculo das oposições, não só em estratégia, como em discurso", afirmou Lobo.
O presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), disse que "não se pode exigir um discurso perfeito", no momento em que o candidato derrotado foi falar da derrota. "Foi um discurso que demonstrou sua maturidade aos 68 anos e experiência. Se deixou de citar um ou outro, é porque não estavam presentes", declarou.
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