Do Estadão via Blog do Nassif
Lígia Formenti - Agência Estado
O Brasil foi o país que mais avançou no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) preparado pelo Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento (PNUD). Foram quatro pontos a mais em comparação a 2009. Um desempenho significativo, sobretudo diante do cenário de estagnação revelado pelo estudo. Dos 169 países analisados, 116 mantiveram a posição apresentada em 2009 e 27 tiveram desempenho pior. Além do Brasil, somente outros 25 conseguiram melhorar a classificação, de acordo com o relatório, que foi divulgado hoje.
Apesar do crescimento, o País ainda apresenta traços importantes de desigualdade tanto de gênero quanto social. No documento deste ano, o Brasil passa a ocupar a 73ª colocação, desempenho suficiente para que integre grupo de países de desenvolvimento humano elevado. O índice analisa indicadores de desempenho de países em três áreas: saúde, educação e rendimento. Este ano, indicadores usados e a forma de cálculo para chegar ao índice mudaram. A escala, no entanto, permanece: varia de 0 a 1. Quanto mais próxima de um, melhor a situação do país.
O Brasil alcançou índice 0,699. Noruega, a primeira colocada, 0,938. O pior indicador foi do Zimbábue: 0,140. São quatro classificações: o grupo com nota mais alta é classificado como de desenvolvimento humano muito elevado. Em seguida, vêm os de desenvolvimento humano elevado, os de desenvolvimento humano médio e, por fim, os de desenvolvimento humano baixo. A mudança ocorre no aniversário de 20 anos do relatório. "Os critérios de desenvolvimento humano mudam.
A ideia foi usar indicadores mais sensíveis a essas mudanças", explica o economista Flávio Comim, do Pnud. A alteração deste ano fez com que índices de vários países, incluindo o Brasil, despencassem em relação ao ano passado. "Mas esses são números que não podem ser comparados. A metodologia é outra, o padrão é outro. É como se estivéssemos usando uma nova régua", compara Comim.
Para poder fazer um acompanhamento histórico, integrantes do programa calcularam o IDH do Brasil da última década seguindo a nova metodologia. "São esses números que podem ser confrontados. E, por esse aspecto, o Brasil cresceu bastante." O salto do Brasil se deve ao desempenho apresentado nas taxas de expectativa de vida, renda e escolaridade média de pessoas com mais de 25 anos.
Esperança de vida
A esperança de vida do brasileiro é de 72,9 anos. A média de anos estudados de pessoas com mais de 25 anos está em 7,2. Já o rendimento nacional bruto é US$ 10.607. "O País cresceu de forma harmônica, em várias áreas. Não foi algo pontual", analisa Comim. Para ele, isso é que contribuiu para o desempenho nacional apresentado este ano fosse significativamente maior do que em 2009.
O que ainda amarra a colocação nacional é a qualidade da educação, avaliada pelo novo índice "anos de estudo esperados"', uma espécie de expectativa de vida educacional. Ao longo dos últimos cinco anos, o número de anos escolares esperado caiu de 14,5 para 13,8.
Apesar da evolução durante o ano, o Brasil continua a exibir um IDH menor do que a média da América Latina e Caribe, que é de 0,704. A comparação com alguns países vizinhos também é desfavorável. A estimativa é de que um brasileiro viva menos 5,9 anos, tenha média de escolaridade 2,5 anos menor e consuma 28% menos do que uma pessoa nascida no Chile, o 45º no ranking.
Argentina, Uruguai, Panamá, México, Costa Rica, Peru também apresentam melhor classificação: 46º, 52º, 54º, 56º, 62º e 63º, respectivamente.
Ao longo da década, o Brasil apresentou um crescimento médio anual de 0,73% no IDH. Um ritmo considerado muito bom. Mas, entre grupo de países de alto desenvolvimento humano, há exemplos de velocidade significativamente maior.
Casaquistão, por exemplo, cresceu 1,51% e Azerbaijão, 1,77%. A Romênia, com ritmo de crescimento de 1,06%, estampa a diferença que tal índice pode provocar. Em 2005, o país dividia com Brasil a mesma colocação. Agora, ele ocupa o 50º lugar no ranking, 22 a frente, portanto, do Brasil.
Índices
Na edição deste ano do relatório, o PNUD lançou três índices. Um deles, o Índice de Desenvolvimento Humano ajustado à Desigualdade, em vez de considerar apenas a média dos indicadores, pesa também a forma como é feita a distribuição dos recursos, seja na saúde, na educação ou no rendimento. Quanto maior a desigualdade, maior a perda que país apresenta ria na classificação geral.
Caso tal índice fosse levado em consideração, o Brasil teria uma classificação 15 posições mais baixas do que a alcançada no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). As desigualdades levariam a uma perda de 27,2% no índice geral. A nota cairia de 0,699 para 0,509.
De acordo com novo indicador, a maior desigualdade no Brasil é registrada no rendimento: a perda provocada pelas diferenças nesta área seria de 37,6%. Em segundo lugar, vem a educação, com perda de 25,7%. O menor impacto foi registrado na área da saúde: 16,5%. Os números do relatório, no entanto, mostram que a desigualdade, embora marcante no Brasil, vem caindo na última década.
Caso o IDHD fosse aplicado em 2000, a perda do Brasil seria de 31%. Em 2005, esse índice cairia para 28,5%.
O ranking de desigualdade foi preparado a partir de microdados. Eles permitem uma avaliação mais detalhadas, mas têm um inconveniente: nem todos os países têm informações necessárias. A saída foi reduzir o número de países analisados. Trinta dos 169 países que participaram do IDH ficaram de fora no IDHD por falta de dados.
O segundo novo índice preparado pelo Programa das Nações Unidas mostra que 8,5% da população brasileira sofre vários reflexos da pobreza de forma simultânea, como deficiências na saúde, educação, dificuldades de acesso a serviços de água e esgoto, eletricidade. É a chamada pobreza multidimensional. "As privações se sobrepõem. A ideia do índice foi verificar a frequência e intensidade dos problemas vividos pela parcela mais pobre da sociedade", explica Comim.
O Índice de Pobreza Dimensional (IPM), como foi batizado, varia de zero a um. Quanto mais próximo de um, pior a situação do País. Nesta primeira edição, o índice do Brasil foi de 0,039. "Um valor baixo, em termos internacionais", afirma Isabel Pereira, integrante da equipe que preparou o relatório. Níger, por exemplo, tem 0,642.
O resultado brasileiro, no entanto, é 2,6 vezes maior do que o mexicano e 3,5 maior do que o argentino.
De acordo com esse novo índice, a maior pobreza encontra-se na área da educação: 20,2% das famílias trazem privações nessa área. Em segundo lugar, vem a saúde: 5,2%. O padrão de vida vem em último lugar, com 2,8%.
O terceiro índice preparado pelo PNUD avalia a desigualdade de gênero, o IDG. A desigualdade apresentada nesta área também levaria o Brasil a cair na classificação geral. Em vez do 73º lugar, ele passaria a ocupar o 80º. A nova ferramenta do PNUD para avaliar a desigualdade é feita a partir de cinco indicadores, distribuídos em três dimensões: saúde reprodutiva, "empoderamento" e mercado de trabalho.
Desses quesitos, taxa de mortalidade materna e fertilidade na adolescência são os que mais pesam para a queda de classificação no Brasil.
Em seguida, vem a participação política. Os índices mostram que 110 mulheres a cada 100 mil nascidos vivos morrem em decorrência de complicações do parto. Um índice 18 vezes maior do que o primeiro colocado no Índice de Desigualdade de Gênero, Países Baixos: 6 mortes. A enorme diferença se repete nas taxas de fertilidade entre adolescentes. A cada 100 mil mulheres com idade entre 15 e 19 anos, 75,6 engravidam no Brasil. Número 19,8 vezes maior do que o registrado nos Países Baixos: 3,8.
Um único aspecto o Brasil mostra uma desigualdade em favor das mulheres: a taxa de escolaridade. "Há um porcentual maior de mulheres que completaram o ensino secundário. Mas isso não se reflete na taxa de participação de força laboral", afirma Comim.
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