1 de nov. de 2010

Será o fim do preconceito?



FILIPPO CECILIO do Portal terra
Direto de São Paulo
A eleição da petista Dilma Rousseff é um passo importante para que a sociedade brasileira enterre de uma vez por todas o preconceito de gênero. Esta é a opinião de diferentes cientistas políticos, professores universitários e políticos ouvidos pelo Terra sobre o tema após a confirmação da vitória da escolhida do presidente Lula para sucedê-lo. Todos concordam, entretanto, que ainda não se pode falar que o Brasil alcançou a emancipação da mulher e a igualdade de gêneros, e que muito da vitória da ex-ministra da Casa Civil se deve à popularidade de seu padrinho político, independente do fato dela ser mulher.
Para o cientista político da Universidade de São Paulo (USP), Humberto Dantas, o fato da petista ser a candidata de um governo bem avaliado pesa mais do que as questões de gênero. "Mas em termos de uma consolidação do que poderíamos chamar de ruptura de valores, ou de tradições e aspectos conservadores, a eleição dela ajuda", diz ele. "E isso já vinha acontecendo há muito tempo no Brasil. Tivemos mulheres prefeitas em grandes capitais, mulheres governando Estados. É sim importante, e rompe barreiras do que poderia ser resquício de um conservadorismo. Mas ela chega ao poder muito mais pelos méritos de seu principal fiador do que pela questão de gênero".
Ricardo Young, candidato derrotado ao Senado em São Paulo pelo PV e apoiador da candidatura de uma outra mulher, Marina Silva (PV), entende que a eleição de Dilma sinaliza a modernização da política brasileira. "É uma experiência já vivida em outros países da América Latina, e que vai estimular mulheres em geral a participarem da política. Mas, a condição de gênero não é suficiente pra ser uma boa presidente".
A presença de mulheres em cargos máximos de comando está se tornando uma constante no continente. Exemplos recentes são Cristina Fernández Kirchner, que preside a Argentina desde 2007; Michelle Bachelet Jeria, que foi a primeira mulher a governar o Chile, entre 2006 e 2010; e Mireya Moscoso Rodrigez, que atuou como presidente do Panamá de 1999 a 2004. Para Aldo Fornazieri, sociólogo da FESPESP, a eleição de Dilma é representativa para retratar o espaço cada vez maio que as mulheres ocupam na vida política. "Paulatinamente, num processo difícil e intrincado, a mulher vem adquirindo status e importância política, se equiparando aos homens", avalia ele.
Os estudiosos assinalam, entretanto, que uma vez no poder, Dilma não poderá se esconder atrás de sua figura feminina, como sugeriu mais de uma vez o presidente Lula durante a campanha, ao dizer que os ataques e críticas que sua protegida sofria eram motivados por sua condição de gênero. "Terminada a eleição, estas astúcias e manobras que são inerentes a uma campanha eleitoral vão desaparecer. A avaliação dela, no exercício efetivo do cargo deve se pautar pelas questões técnicas e de natureza política", disse Fornazieri.
Dantas segue na mesma toada: "na campanha isso é possível de ser feito, mas no governo não dá; o governo é a vida real. Não dá tempo de ficar dizendo ou usando justificativas desta maneira".

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