3 de nov. de 2010

Guerra cambial

Da Folha.com via Blog do Nassif
SIMONE IGLESIAS
MÁRCIO FALCÃO
DE BRASÍLIA
Ao lado de sua sucessora Dilma Rousseff, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusou na manhã desta quarta-feira os Estados Unidos e a China de promoverem uma "guerra cambial" para proteger suas economias, dando eco às declarações da presidente eleita, que já no discurso de domingo afirmara que tomaria medidas para proteger as empresas brasileiras.
Lula disse que vai "brigar" contra isso na reunião do G-20, que acontecerá em Seul, na próxima semana. Dilma também viajará para a Coreia.
Ao comentar o assunto, a presidente eleita afirmou que "todos os países que não são China e Estados Unidos percebem que há uma guerra cambial".
Ela atribuiu a guerra cambial a uma política para dar mais competitividade a países em um cenário de crise internacional. E disse que "a última vez que uma desvalorização [de moeda] competitiva aconteceu, deu no que deu, a Segunda Guerra Mundial".
SALÁRIO MÍNIMO
Lula sinalizou que deixará a decisão sobre o reajuste real do salário mínimo nas mãos de Dilma.
Segundo o presidente, se quiser, ela pode antecipar o reajuste que só estava previsto para 2012. Mesmo que haja um aumento maior do que anos anteriores, Lula descartou que o mínimo suba de R$ 510 para R$ 600, como havia prometido José Serra (PSDB).
Em sua fala, Dilma disse que na volta da viagem a Coreia do Sul vai estudar com sua equipe a possível compensação, em 2011, do reajuste previsto para 2012.
Pelas regras atuais, o mínimo não terá reajuste real em 2011, indo de R$ 510 para R$ 538,15. Mas em 2012, o aumento real superaria 7%, previsão do crescimento da economia em 2010.
GOVERNO DILMA
Lula afirmou que a petista montará o governo "com a cara dela" e negou que tenha pedido a permanência de ministros na nova equipe. "A continuidade é da política, não das pessoas", afirmou ele, acrescentando: "Rei morto, rei posto".
O presidente disse ainda que vai dar uma lição de como ex-presidentes devem se comportar, afirmando que vai assistir a atuação de Dilma da arquibancada, uniformizado e "sem corneta".
Na fala com os repórteres, Lula afirmou ainda que a eleição de Dilma representa a vitória "dos que perderam em 1968". Ironizando o candidato derrotado José Serra (PSDB), ele demonstrou reticência em se candidatar à Presidência em 2014, afirmando que Dilma tem a preferência. Segundo ele, é muito "pequeno" discutir 2014 agora.
"Senão vai chover bolinhas de papel em nossa cabeça", declarou, em referência à agressão sofrida por Serra durante a campanha.
Lula apelou ainda para que a oposição não faça com Dilma o que teria feito com ele. "A política da vingança, de trabalhar para não dar certo."
SURPRESA
O presidente preparou uma surpresa para sua sucessora no Palácio do Planalto, segundo informações de assessores. A surpresa não estava prevista na agenda oficial do presidente. Ela foi incluída na manhã de hoje.
Além do compromisso com a presidente eleita, Lula tem despachos internos e reuniões com Carlos Eduardo Esteves Lima, ministro interino da Casa Civil; Nelson Jobim, ministro da Defesa; Guido Mantega, ministro da Fazenda; Henrique Meirelles, presidente do Banco Central; Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores; e José Artur Filardi Leite, ministro das Comunicações.
À tarde, Dilma viaja para tirar alguns dias de descanso. A assessoria não confirmou o destino da presidente. Apesar de ela mesma ter dito na segunda-feira que seu destino é "segredo de Estado", é possível que a petista passe o período em Porto Alegre, ao lado da filha Paula e do neto Gabriel.
ÁFRICA E ÁSIA
Após os dias de descanso, Dilma viaja, ao lado de Lula, para viagens à África e à Ásia.
No sábado (6), Lula e Dilma viajam para Moçambique. Em Maputo, capital do país, será inaugurada uma fábrica de medicamentos. Depois da África, ambos participam das reuniões do G20 (o grupo das 20 maiores economias do mundo) em Seul, na Coreia do Sul, onde Lula vai apresentá-la à comunidade internacional.

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