Cesar Felício de Belo Horizonte
O senador eleito Aécio Neves (PSDB-MG) sai destas eleições preparado para disputar o comando da oposição ao futuro governo de Dilma Rousseff com o governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin (SP), candidato tucano derrotado à Presidência em 2006. “Sem dúvida alguma o PSDB já tem dois presidenciáveis para 2014″, disse o governador eleito do Paraná, Beto Richa, ao Valor.
Minas Gerais, São Paulo e Paraná foram os três únicos Estados em que o PSDB venceu a eleição para governador no primeiro turno este ano. Em Minas, foi reeleito o governador Antonio Anastasia, com apoio direto de Aécio. Para Richa, tanto Aécio quanto Alckmin irão se credenciar para disputar a Presidência se conseguirem sucesso em duas missões: capacidade de diálogo com partidos satélites da base governista federal e conversão em expectativa concreta de poder.
“O partido terá que rever suas diretrizes e sua direção, porque nossos aliados e nós mesmo nos enfraquecemos muito”, comentou Richa. O tucano aposta no estabelecimento de pontes com um dos principais vencedores das eleições para os governos estaduais este ano, o governador reeleito de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). O paranaense se exclui como protagonista na eleição presidencial de 2014. ” Estou anos-luz atrás de Aécio e Alckmin e o Paraná tem uma densidade menor do que São Paulo e Minas”, disse.
Aécio já é tratado em Minas Gerais como “grande líder” da oposição a partir de agora. Segundo o presidente regional do DEM mineiro, o deputado federal Carlos Melles , o senador eleito poderá ser uma amálgama para uma eventual fusão entre o PSDB e o DEM, “uma opção que nos resta para impedir que sejamos tratorados pela base governista”, afirmou. Para Melles, Aécio conta com um relacionamento sólido com quase todas as lideranças do DEM: da família Maia no Rio de Janeiro ao deputado federal ACM Neto na Bahia. A exceção seria o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM) muito próximo do candidato derrotado do PSDB este ano, José Serra, e do PMDB.
O próprio Aécio Neves afirmou em Belo Horizonte ao Valor que um novo arranjo partidário será “inevitável”. Para Aécio, a fusão do PSDB com o DEM é possível, “porque os partidos têm interesses convergentes”. O senador eleito ponderou , entretanto, que essa não é uma questão para o curto prazo. “Temos que aguardar uns meses para entender para onde o novo governo vai”, disse. Em entrevistas coletivas ontem, Aécio frisou que a aliança com o DEM não bastará. “Temos que unir as forças da oposição, mas também ampliar o nosso arco de alianças. Vou colocar a minha capacidade de relacionamento à disposição desta construção”, disse.
O senador eleito afirmou que, dentro de dez dias, iniciará conversas com os governadores e senadores eleitos para a elaboração do que chamou de uma “agenda para o País”, que pretende apresentar no Congresso assim que tomar posse. A reforma política com certeza será um dos temas abordados. “Não vamos permitir que o Senado fique refém da agenda do Executivo”, disse.
Para o público interno, Aécio se esforça em fazer acenos para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um sólido aliado de Serra em todo o processo que resultou na candidatura presidencial este ano. “O PSDB precisa revisitar sua história. Eu tenho um orgulho enorme do Fernando Henrique. Esse debate tem que ser enfrentado com grandeza”, afirmou.
O resultado da eleição presidencial em Minas Gerais mostrou Dilma Rousseff com 58% do total, ante 42% de Serra, o que demonstra que a influência de Aécio em transferir votos para Serra no Estado foi nula. A dificuldade não foi apenas do senador eleito e não se restringiu à disputa em 2010. Desde a redemocratização, em 1989, a eleição em Minas Gerais jamais destoou do resultado nacional.
O próprio Aécio admitiu de forma indireta, no momento de votação, que não conseguiria a vitória para Serra no Estado. “Ocorreu nessa eleição uma transferência horizontal da popularidade. Os governos bem avaliados no Brasil foram aprovados nas urnas e, portanto, tiveram oportunidade de continuar o seu trabalho. É o caso do governador Anastasia. O presidente da República, de alguma forma, conseguiu transferir parte do seu prestígio para sua candidata. O que posso dizer é que pode ter tido alguns companheiros que trabalharam tanto quanto Anastasia e eu aqui em Minas por Serra, mas certamente não encontraremos ninguém que tenha trabalhado mais”, disse.
Era esperado que a transferência de votos para Serra não ocorresse. “Nada mais natural que a campanha tucana desse tanta ênfase assim a Minas, mas o Estado é uma síntese nacional, reflete todas as regiões, e nunca saiu da média do Brasil. É uma espécie de microcosmo. Dificilmente quem ganha em Minas é o perdedor da eleição nacional, mas não porque o Brasil segue o padrão mineiro e sim o contrário”, comentou o sociólogo Antonio Lavareda, da empresa de consultoria MCI-Ipespe, cinco dias antes da eleição.
Aécio promoveu no segundo turno encontros de Serra com lideranças políticas no Triângulo Mineiro, na região metropolitana de Belo Horizonte e no norte de Minas e fez uma reunião sem a presença do candidato na Zona da Mata. Como disse Custódio de Mattos, tucano e prefeito de Juiz de Fora, por ocasião da visita de Aécio, o senador eleito conseguiu mobilizar prefeitos, mas não o eleitorado.
No último ato com o candidato, na manhã de sábado em Belo Horizonte, em uma carreata que atravessou a área nobre da cidade, o desânimo era evidente entre tucanos e integrantes do DEM. “Estamos fazendo o que é possível” era a frase mais repetida. A avaliação geral é que a eleição de Serra no segundo turno só seria possível caso o candidato conseguisse reverter votos no horário eleitoral gratuito.
A campanha de Dilma em Minas Gerais, tanto no primeiro quanto no segundo turno, enfrentou dificuldades em função das divisões internas do PT e a disputa entre esse partido e o PMDB. A então candidata, que é natural de Belo Horizonte, procurou contornar a desarticulação dos aliados com sua presença física no Estado: fez comício em Uberlândia e esteve na capital do Estado quatro vezes em três semanas.
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