por Luiz Carlos Azenha
Não vou entrar no campo da opinião sobre os motivos que levaram Barack Obama a perder o controle da Câmara dos Deputados na eleição americana de 2010, comprometendo as chances de sua reeleição em 2012. Quem sabe mais tarde. No entanto, pretendo ressaltar alguns aspectos que, ainda que indireta e remotamente, nos dizem respeito.
Como vocês sabem, o voto nos Estados Unidos não é obrigatório.
De certa maneira, ganha o partido que consegue mobilizar o maior número de eleitores para ir às urnas.
Foi aí que Barack Obama perdeu. O analista de pesquisas Mark Penn escreveu, no Huffington Post: apenas 11% dos eleitores que compareceram para votar nos Estados Unidos tinham entre 18 e 29 anos de idade; em 2008, quando Obama se elegeu, foram 18%. O voto dos hispânicos e dos negros também caiu de forma dramática. E o conservadores compareceram em peso: foram 41% agora, contra 34% em 2008.
Quem levou os eleitores conservadores às urnas? O Tea Party, uma associação de grupos organizada de forma horizontal, sem coordenação centralizada, que promoveu uma campanha lunática beirando o racismo e acusou Obama de ser socialista, elitista, de se afastar dos “valores” estadunidenses e outras coisas do gênero. O Tea Party promoveu seus próprios candidatos dentro da estrutura do Partido Republicano, mas votou com os republicanos onde não conseguiu emplacar seus representantes. O Tea Party fez coisas que o Partido Republicano não poderia fazer, por causa dos limites no financiamento de campanha ou por serem consideradas extremistas demais mesmo para os padrões dos neoconservadores.
O Partido Republicano ganhou, mas foi o Tea Party que providenciou a militância.
Bob Burnett, também no Huffington Post, lembrou de um conceito que mereceu um livro do estrategista Sidney Blumenthal, escrito nos anos 80, em que ele falava numa nova era da política, a da “campanha permanente”:
“É preciso uma campanha permanente. Em 1980, o estrategista democrata e colunista Sidney Blumenthal observou que estávamos entrando na era da campanha política permanente. Os republicanos aprenderam isso. Os democratas, não. No começo do governo Obama, os republicanos começaram sua campanha para vencer as eleições de meio de mandato se opondo a todas as iniciativas presidenciais. (Em janeiro de 2009, os republicanos na Câmara votaram unanimemente contra o pacote de estímulo apesar do grande apoio nacional ao pacote). Obama parece não ter entendido a natureza dogmática da oposição republicana. Como resultado disso, perdeu tempo e aliados tentando obter apoio do Partido Republicano. Em agosto, E.J.Dionne observou no Washington Post que Obama parecia ter se afastado da política e escreveu, “na democracia, separar a governança da política é impossível”. Como consequência da indiferença do presidente em relação à política em 2010 a campanha democrata foi incoerente e descordenada”.
Finalmente, parte da derrota de Obama nos Estados Unidos pode ser atribuída à desmobilização, como escreveu Marshall Ganz no Los Angeles Times:
… o presidente desmobilizou a mais ampla, profunda e eficaz organização de base já construída para apoiar um presidente democrata. Com a ajuda da nova mídia e um núcleo de cerca de 3 mil organizadores bem treinados e altamente motivados, 13,5 milhões de voluntários distinguiram a campanha de Obama das outras. Não eram os “suspeitos de sempre” — seguidores leais do partido, sindicalistas ou militantes pagos — mas um amplo espectro de cidadãos-ativistas. Não eram parte de uma lista de e-mail. Pelo menos 1,5 milhão de pessoas, de acordo com o cálculo da campanha, participaram ativamente em equipes locais de mobilização em todo o país. Mas a equipe de governo de Obama colocou essa rede para dormir, exceto quando tentou às pressas mobilizar apoio para aprovar a reforma no sistema de saúde. Os voluntários foram exilados no Comitê Nacional Democrata. “Brigar pela agenda do presidente” passou a ser obedecer ordens sobre como fazê-lo, enviar e-mails para legisladores e responder a repetidos pedidos de doações de dinheiro. Mesmo o pedido de contribuições de cidadãos para políticas do governo consistiu em mensagens por e-mail, conferências telefônicas em grupo e a eventual convocação de “gente real” para participar em eventos na Casa Branca.
Trocando em miúdos, Obama usou um método para ganhar a eleição mas “descartou” boa parte daqueles que o elegeram assim que assumiu o poder.
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