9 de nov. de 2011

Geração mascarda

Por Marcelo Rubens Paiva no Estadão


Entenderam agora por que os estudantes da USP andavam mascarados?
Estão sendo enquadrados no crime FORMAÇÃO DE QUADRILHA.
Além de tipificado dano no prédio [reitoria], desobediência e crime ambiental com as pichações [acuma?!].
Se não pagarem fiança de mais de mil reais, vão para o presídio.
Imagine se a PM invade o campus no final dos anos 70.
Não havia 1 estudante que não pertencesse a uma “quadrilha”, que chamávamos de TENDÊNCIA ESTUDANTIL.
REFAZENDO, LIBELU, CAMINHANDO, CONVERGÊNCIA SOCIALISTA e outras.
Era isso que os moleques tentavam dizer no protesto atual: a maneira como a PM age no campus e os agentes que a comandam não se encaixam no espírito de livre pensar de uma UNIVERSIDADE. O pensamento socrático foi algemado pela truculência do Estado.
Parabéns para aqueles que acham que UNIVERSIDADE não é espaço para playboys maconheiros e baderneiros, que depredam o patrimônio público.
Venceram a generalização, o debate político raso e o Estado maniqueísta.
Perderam a dialética e os movimentos sociais.
Perdeu a DEMOCRACIA [o diálogo].

Sim, a violência urbana pede a PM no campus universitário. A maioria estudantil, idem.
Mas não esta PM mal treinada, viciada em extorsão a maconheiros, pragmática.
Regida por leis que consideram agremiação política e pensamento ideológico uma QUADRILHAGEM.

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Foi a reitoria da USP que pediu que a Linha Amarela do metrô, ainda na prancheta, não passasse pelo campus, alegando questões de segurança.
No projeto original, as estações seriam na Praça do Relógio e no HU (Hospital Universitário).
Construíram no Butantã.
Os milhares de alunos, professores, funcionários e visitantes que circulam diariamente pela maior universidade da América Latina são obrigados a caminhar mais de1 kmaté a portaria da instituição.
No ano passado, moradores de Higienópolis assinaram um manifesto para que o metrô não construísse uma estação no coração do bairro. “Não queremos uma gente diferenciada”, disse uma moradora, o que gerou protestos carregados de ironias.
Agora, senhoras de Ipanema abraçaram a tombada Praça Nossa Senhora da Paz e pediram um não à construção de uma estação do metrô.
As do Leblon também pedem que a linha siga subterrânea até a Gávea.
Síndicos de prédios de Pinheiros pediram que a prefeitura não leve para o bairro um albergue de moradores de rua.
Na semana passada, um banco da Avenida Paulista cercou com grades as muretas da sua agência, que serviam de ponto de encontro, lazer e paquera nos fins de semana.
Ver as fotos num post abaixo.
Imitou a agência da Caixa Econômica, também na Paulista, que colocou gradis de proteção para impedir a circulação de pedestres na praça interna.
Não se encontra em outros países a divisão de circulação entre proprietários e serviçais.
Difícil entender por que há elevadores sociais e de serviço em quase todos os condomínios. E mesmo com o aviso afixado, obrigado por lei, de que é proibida a discriminação, empregados, diaristas, faxineiros são compelidos a não usar o social.
Nossa República, proclamada por generais, substituída pela elite do café com leite, recomposta pelo populismo, que a transformou numa ditadura de inspiração fascista, retomada por forças democráticas que viviam em conflito com trabalhistas, que detonou uma ditadura violenta que durou 21 anos, demora para se cristalizar.
A violência urbana, prova da fraqueza das instituições públicas, da falência do Estado, da ausência de justiça social, serve de álibi para que se levantem grades, portarias e sistemas de segurança que “protejam” uma classe da outra.
A tensão social vitima.
A corrupção na Justiça e no Executivo atravancam o desenvolvimento e impedem a distribuição da riqueza pública.
A Previdência separa cidadãos em duas castas: os comuns e os servidores públicos.
No mês em que se comemora a Proclamação da República, cujo sentido etimológico é “bem comum”, deveríamos nos perguntar se ela foi de fato proclamada.
O viral que virou anúncio da Red Label que emociona, em que as pedras do Pão de Açúcar se transformam num gigante que se levanta e sai andando, sob slogan “o gigante adormeceu”, é simbólico.
Pois ele se levanta e vai embora.
Vai dar um role no mar, enquanto nos dizem “keep walking, Brasil”.
Deveria ficar no continente para ajudar a nossa República.
Volta, gigante. Não dá as costas para nós. 
Ah, e tem mais, SE BEBER NÃO DIRIJA.


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