Coluna Econômica
Tenho alertado há meses: o grande desafio do próximo governo será resolver a armadilha cambial.
Em geral, a taxa de câmbio deve refletir a relação entre preços de produtos industrializados de duas economias. Por exemplo, se a moeda do país A fica muito cara em relação ao do país B, os produtos do país B se tornam mais baratos vis-a-vis os do país A. Há um aumento das vendas do país B para o país A. Geram-se empregos no país B em detrimento do país A. O país B passa a receber cada vez mais dólares por suas exportações.
Com mais dólares entrando, há um movimento inverso: a moeda do país B passa a se valorizar, seus produtos ficam mais caros, reduzindo as vantagens de preço em relação aos do país A e, teoricamente, permitindo um novo equilíbrio comercial. Por outro lado, o país B compensa o preço mais caro com outras providências: custos internos menores, ou calçados mais finos, que possam ser vendidos no novo preço.
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A situação torna-se complexa quando ocorrem dois fenômenos, isolada ou conjuntamente. Um deles é o aumento expressivo das exportações de commodities (produtos não industrializados). Nesse caso, entram mais dólares no país B, valorizando sua moeda (e deixando seus produtos mais caros), sem que tenha havido uma melhora na competitividade dos produtos industrializados. Conseqüência: perderá mercado para os calçados dos outros países.
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O segundo movimento complicado é quando há diferencial de juros entre os dois países. Nesses casos, haverá um movimento de entrada de dólares do país A para o país B, ajudando a apreciar ainda mais sua moeda, sem que sua economia tenha melhorado. Conseqüência: cai mais ainda a competitividade dos seus produtos.
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Entrando no Brasil, os dólares ganham com os juros internos e com a apreciação cambial. O IOF de 4% pouco resolverá.
Confira algumas simulações:
O investidor traz dólares a R$ 1,70, paga 2% de IOF, aplica a 11% ao ano. Na hora de sair, o dólar continua a R$ 1,70. Seu ganho será de 9% ao ano (contra taxa zero nos países desenvolvidos).Aí a Fazenda aumenta o IOF para 4%. Mantidas as demais condições, o ganho do investidor será de 7% ao ano – ainda elevadíssimo.Suponha que, na hora da saída, o dólar esteja a R$ 1,60. Com IOF de 4% e tudo, o ganho será de 13% ao ano – uma exorbitância.
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Enquanto acreditarem que o real continuará se valorizando, os dólares de curto prazo entrarão. Em favor desse movimento tem os recursos para capitalização da Petrobras, os recursos de investimento direto e um quadro internacional relativamente tranquilo. A cada dia que passa, mais aumenta a dependência brasileira desses dólares. Até chegar o momento em que o investidor sente que não haverá mais espaço para a moeda continuar se apreciando.
Aí, quando mais tempo demorar a sair, maior será sua perda:
Se o dólar for a R$ 1,80, o investidor terá 1% ao ano de remuneração.A R$ 1,90, perderá 5% do que trouxe.A R$ 2,2, perderá 18%.
É em cima dessa expectativa que, mais à frente, haverá o estouro da boiada do câmbio.
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