Patrícia Campos Mello na Folha
Está na hora de o governo brasileiro mudar sua estratégia (ou criar uma) para lidar com a China. O caso da Embraer é emblemático.
A Embraer está prestes a fechar sua fábrica na China. A fábrica de Harbin fazia o ERJ-145, um avião de 50 lugares, para o qual não há mais demanda. Falta entregar uma aeronave, o que deve ocorrer em março ou abril, e depois não há mais nenhuma encomenda pra esse avião.
A Embraer pediu para montar lá o Embraer 190, para 100 pessoas. Trata-se do carro-chefe da empresa, usado pela Azul e Webjet. Mas a Avic (Corporação de Indústria da Aviação da China) está desenvolvendo um avião semelhante, ARJ21-900, com capacidade para 110 passageiros, em parceria com a canadense Bombardier, concorrente da Embraer. Por isso, o governo chinês está resistindo a conceder à Embraer autorização para produzir o 190, para evitar concorrência.
A empresa espera que o governo chinês dê a autorização durante a visita da presidente Dilma Rousseff ao país, no dia 14 de abril, como um gesto de boa vontade.
Não é só a Embraer que enfrenta dificuldades de acesso ao mercado chinês. Empresas brasileiras que tentavam participar de um centro de distribuição de minério na China não receberam autorização chinesa até hoje. O caso da Marcopolo é bem parecido com o da Embraer, a empresa queria aumentar o escopo da produção, mas não consegue autorização do governo chinês.
A China é o maior mercado do mundo e ninguém quer sair de lá. As empresas sabem que precisam estar presentes na China.
E é aí que entra a estratégia do governo --afinal, para lidar com um capitalismo de Estado, é preciso falar de governo para governo.
O Brasil está estudando um novo marco regulatório para mineração no país. Existe uma certa preocupação com a possibilidade de a China adotar um estilo "colonialista na África" por aqui e começar a retirar os minérios do subsolo brasileiro e embarcá-los para China, sem agregar valor. Portanto, o Brasil poderia adotar algum tipo de cláusulas de componente nacional, como fez a Petrobras com fornecedores das plataformas, na exploração dos minérios no país.
Ou não. Ou o Brasil pode deixar os chineses investirem livremente e terem acesso a preciosas matérias-primas brasileiras. Tudo depende da boa vontade dos chineses para deixar empresas brasileiras operarem livremente na China, sem sofrerem com regras que discriminam contra estrangeiros.
É a hora de barganhar, de governo para governo.
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