5 de out. de 2010

Por que a taxa de juros é tão alta II


Do Estadão
IOF 'não faz diferença', diz Martin Wolf

Colunista do 'FT' vê com ceticismo as medidas do governo para conter a valorização do real, e acredita que não impedirão fluxo de investimentos
Leandro Modé - O Estado de S.Paulo
O mais influente colunista econômico do mundo, Martin Wolf, do "Financial Times", mostra-se cético quanto aos efeitos de médio e longo prazos das medidas anunciadas pelo governo para conter a valorização do real. "Duvido que faça qualquer diferença", afirmou ao "Estado". Ele foi a principal estrela de um evento promovido ontem à noite pela Faap para discutir o papel do Estado na crise financeira internacional.
Wolf disse não acreditar que as taxas de câmbio reflitam movimentos especulativos de curto prazo - a elevação do IOF de 2% para 4% tem como grande objetivo frear justamente a entrada de dinheiro especulativo no Brasil.
"O principal fator que influi na formação da taxa de câmbio é o fluxo de capitais, que, por sua vez, se move de acordo com as oportunidades de investimento e as diferenças entre as taxas de juros dos países", argumentou. "O Brasil é um país com taxa de poupança relativamente baixa e taxas de juros relativamente elevadas. Por isso, é muito atrativo para o capital estrangeiro."

Wolf observou que corporações do mundo todo estão em busca de boas oportunidades de investimento. E essas estão nos países emergentes, como o Brasil, que, diferentemente das nações desenvolvidas, têm registrado forte expansão econômica.
"Se você olhar para as economias emergentes mais atrativas do mundo, com sistemas financeiros relativamente abertos, o Brasil é a número 1", analisou. "Portanto, é absolutamente inevitável que seja inundado com capitais. Uma pequena taxação não vai fazer diferença."
O colunista inglês disse acreditar que a próxima crise econômica mundial ocorrerá em um país emergente justamente por causa do enorme fluxo de capitais atual. Ele frisou que não gosta de fazer previsões, mas reconheceu que o Brasil é um dos candidatos a ter problemas.
"O Brasil está superaquecido, está claramente indo rápido demais e há um monte de capital vindo (e por vir). Isso me preocupa um pouco. Não estou prevendo uma crise, que fique claro. Mas há riscos. Há fatos aqui."
Para Wolf, o fluxo de capitais não faz mal a um país quando é usado para financiar investimentos e, por tabela, uma expansão mais acelerada da economia.
Bolsa. O ex-presidente do Banco Central (BC) Arminio Fraga, que também participou do evento, avalia que, "temporariamente", a medida do governo pode funcionar um pouco. Ele lembrou que, no início dos anos 90, quando esteve no BC pela primeira vez, chegou a adotar mecanismo semelhante.
"Mas, no longo prazo, não funciona", disse. "Uma solução mais definitiva é construir condições para termos uma taxa de juro mais baixa, porque isso é um fator de atração de capital de curto prazo. Não adianta tapar o sol com a peneira", observou.
Fraga, que atualmente preside o Conselho de Administração da BM&FBovespa, considerou positivo o fato de o governo ter excluído os investimentos em Bolsa do aumento do IOF. "Pode parecer correlacionado com a minha presença na Bolsa, mas eu sempre defendi um tratamento diferente (para a Bolsa) porque esse tende a ser um capital de longo prazo", afirmou.

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