Eliane Cantanhêde na Folha
A presidente Dilma Rousseff decidiu enfrentar os escândalos dos Transportes, primeiro, e a ousadia do aliado PR, depois, e venceu duplamente.
Ela botou para correr a cúpula do ministério, aí incluídos o ministro Alfredo Nascimento e quatro assessores, ao constatar que, ao sair da Casa Civil para disputar a eleição, deixara um orçamento "x" para as obras do PAC no setor e, ao voltar, já como presidente, encontrara "x" milagrosamente multiplicado por "y".
Ao fazer isso --botar a turma para correr-- Dilma estava já decidida a enfrentar o contra-ataque. E enfrentou, ao nomear o ex-secretário executivo do ministério, Paulo Sérgio Passos, para a vaga de Nascimento, à revelia do PR. Apesar de filiado ao PR há alguns anos, Passos é um técnico de carreira. E é persona non grata do partido.
Dilma, porém, cumpriu todo um ritual para não bater de frente de vez com o PR, um dos partidos aliados mais leais no Congresso. E fez tudo direitinho.
O primeiro passo foi fingir que iria manter o partido no comando da pasta, ao convidar o senador Blairo Maggi (PR) para ser ministro, mas já preparada para fazer o que realmente queria: efetivar Passos.
Blairo aceitou o jogo. Conversou com a presidente, alegou que é empresário da área de navegação e que, portanto, teria impedimentos éticos e morais para assumir a pasta. Mas seguiu em frente no teatro, reunindo-se com os sócios e conversando com os correligionários até o não definitivo na segunda-feira.
Com Blairo Maggi fora, Dilma estava livre, leve e solta para fazer o que bem entendesse, por uma questão muito simples: o PR não tinha nenhum outro nome para os Transportes, como a cúpula admitiu para a Folha no domingo e saiu publicado na segunda-feira. Quem? Nínguém. Portanto, teria de engolir a decisão da presidente, como está engolindo.
Deu tudo certo. Agora, só falta ver como Luiz Antonio Pagot se sai hoje, terça, 12 de julho, no depoimento ao Senado. Ele é ex-diretor do Dnit (o órgão dos Transportes que cuidava da infraestrutura), foi demitido no tsunami Dilma e andou ameaçando virar um homem-bomba, ou um novo Roberto Jefferson, o que denunciou o mensalão.
Aparentemente, a bomba vai virar um traque, depois que Pagot foi amansado pelo padrinho Blairo Maggi e por outros enviados do Planalto.
Pagot vai se defender, explicando como funcionam as decisões --quem participa, o cronograma, os aditamentos, as liberações, a fiscalização do TCU e da CGU. Mas provavelmente não vai mais atacar --dizendo, como ameaçava, que quem estava por trás de tudo era o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, casado com a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e hoje ministro das Comunicações.
A dúvida é como o PR e o próprio Pagot vão se comportar diante do novo ministro Passos, já que ele é acusado de trair o partido, de ser ministro na época do superfaturamento (2010) e ser informante de Dilma sobre as coisinhas estranhas que aconteciam nos Transportes na gestão de Nascimento, aquele cujo filhote enriqueceu do dia para a noite fazendo negócios com uma empresa contratada pelos Transportes, dirigido pelo papai.
Na verdade, Dilma deu um nó no PR: sem um nome para o ministério e sem ter para onde correr (para a oposição? Ha ha ha), o partido vai chiar daqui, fazer uma ameaçazinha dali, mas daqui a uma semana ninguém mais lembra disso. E vai em frente, colhendo as migalhas do poder.
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