Do IG
Gastar menos para viajar ao exterior e pagar um preço mais em conta pelo pãozinho do café da manhã são vantagens do dólar barato. Na última segunda-feira, a moeda norte-americana fechou abaixo de R$ 1,55 pela primeira vez desde 1999. Com um valor baixo como este, quem viaja acaba desembolsando menos reais para comprar um dólar. Os produtos importados – ou derivados deles, como o pãozinho, que é feito de trigo – acabam barateando. No entanto, a desvalorização do dólar tem efeitos duros para diversos segmentos da indústria nacional e, principalmente, para as empresas que atuam como exportadoras.
“Para a companhia que vive de exportação, significa que ela está ganhando menos dinheiro por seus produtos,” diz Luiz Filipe Rossi, professor de Microeconomia e Finanças do Ibmec-RJ. Como as vendas são em dólares, quando a receita é convertida em reais, fica menor. Entre as indústrias mais afetadas estão as metalúrgicas, produtoras de sucos de laranja e de carnes, por exemplo. Além dos efeitos para as exportadoras, as companhias que atuam em diversos setores no mercado doméstico acabam tendo uma grande perda de competitividade. “Imagine um produto nacional que tenha um similar importado, como os automóveis e os perfumes, por exemplo. Os itens que vêm de fora ficam mais baratos,” diz Rossi.
Com isso, companhias de diversos setores da indústria brasileira acabam tendo dificuldade para se desenvolver. Essa situação, segundo Alberto Matias, professor titular da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP), acaba levando empresas de alguns segmentos da indústria a se transformar em simples montadoras de produtos. “As companhias passam a ver vantagens em comprar as partes da China e montar aqui. É o caso de empresas de ar condicionado e automobilísticas, por exemplo.”
Para Antônio Carlos Alves dos Santos, coordenador do curso de Economia e Comércio internacional da PUC-SP, o dólar barato está tornando mais rápido o processo de desindustrialização do País. Ainda que ele acredite que esse movimento seja parte do desenvolvimento da economia, considera que a situação cambial tem uma parcela de culpa. “A desindustrialização vem sendo acelerada pelo fato de o câmbio estar assim,” afirma.
Dados recentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que, em junho, a produção das empresas industriais recuou e a utilização da capacidade ficou abaixo do usual pelo sétimo mês consecutivo. Em maio, o índice de evolução da produção havia ficado em 52 pontos. No mês seguinte, caiu para 48,1 pontos. Quando o resultado fica acima de 50 pontos, significa expansão. Abaixo, revela uma queda.
Com isso, companhias de diversos setores da indústria brasileira acabam tendo dificuldade para se desenvolver. Essa situação, segundo Alberto Matias, professor titular da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP), acaba levando empresas de alguns segmentos da indústria a se transformar em simples montadoras de produtos. “As companhias passam a ver vantagens em comprar as partes da China e montar aqui. É o caso de empresas de ar condicionado e automobilísticas, por exemplo.”
Para Antônio Carlos Alves dos Santos, coordenador do curso de Economia e Comércio internacional da PUC-SP, o dólar barato está tornando mais rápido o processo de desindustrialização do País. Ainda que ele acredite que esse movimento seja parte do desenvolvimento da economia, considera que a situação cambial tem uma parcela de culpa. “A desindustrialização vem sendo acelerada pelo fato de o câmbio estar assim,” afirma.
Dados recentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que, em junho, a produção das empresas industriais recuou e a utilização da capacidade ficou abaixo do usual pelo sétimo mês consecutivo. Em maio, o índice de evolução da produção havia ficado em 52 pontos. No mês seguinte, caiu para 48,1 pontos. Quando o resultado fica acima de 50 pontos, significa expansão. Abaixo, revela uma queda.
Como resultado, a economia acaba tendo uma participação maior de comércio e serviços e vai perdendo um pouco da produção. “Com isso, se torna mais vulnerável e menos capacitada. Outro efeito é a redução da capacidade de emprego em atividades industriais,” diz Matias. Dados de recentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que a utilização da capacidade tem sido “menor do que o usual” há sete meses. O emprego, por sua vez, manteve-se estável em maio e junho.
Em relação à menor participação da indústria na economia, o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) calcula que, em 2004, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tinha uma participação de 30,1% da indústria, percentual que teve uma ligeira queda para 26,8% em 2010. Ao mesmo tempo, o setor de serviços aumentou sua fatia de 63% para 67,4%.
Soluções
Entre as soluções para a situação, os economistas concordam que a saída pode ser encontrada com uma série de medidas. Em primeiro lugar, o governo deve buscar desonerar as empresas e investir em infraestrutura. "Tem que lutar para aumentar a competitividade autêntica das empresas melhorando a infraestrutura, reduzindo o custo das empresas com tributos, investindo em pesquisa e desenvolvimento,” diz Armando Castelar Pinheiro, coordenador de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
É isso que pedem as companhias. Nesta segunda-feira, o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, pediu medidas governamentais para ajudar as empresas. “Eu espero a desoneração dos investimentos, das exportações, medidas fortes de defesa comercial, tanto nos portos como na verificação técnica dos produtos importados”, afirmou Andrade a jornalistas, segundo a assessoria de imprensa da CNI.
Ao mesmo tempo em que o governo deve fazer sua tarefa de casa, as companhias precisam investir em tecnologia, pesquisa e desenvolvimento e em inovação, segundo os economistas. “As empresas brasileiras precisam se preparar para competir com as estrangeiras,” diz Santos, da PUC-SP. Segundo ele, o Brasil tende a crescer e ter uma abertura cada vez maior, e as companhias precisam se preparar melhor. “A indústria precisa acordar para o fato de que tem que investir em ganho de produtividade e ganho de tecnologia. Este é o caminho do Brasil,” afirma.
"Algumas empresas já estão aproveitando o dólar baixo para comprar máquinas e equipamentos modernos de outros países. É uma forma de aproveitarem a situação para se tornarem mais competitivas," acrescenta Castelar. "Tem que ter um lado bom nesse processo todo," completa.
Dólar deve seguir baixo
Para os especialistas, a situação não deve mudar tão cedo. Na avaliação de Reynaldo Passanezi, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), o Brasil ainda terá que conviver por um bom tempo com as atuais taxas de câmbio. “Se os EUA não elevarem as taxas de juro, o dólar continuará baixo, e não há sinais de que o país irá mexer nas taxas de juros”.
“Eu acredito que a taxa de câmbio vai ficar baixa por um tempo. Não vejo tendência de mudança neste momento,” concorda Santos, da PUC-SP.
Isso não quer dizer, entretanto, que o cenário é totalmente confortável para as empresas que têm dívidas em dólares. Apesar de verem seus débitos reduzidos no curto prazo, elas não estão livres de riscos. “Se uma acontecer uma crise e o dólar disparar, a empresa quebra,” afirma Matias, da USP.
Toma lá, dá cá
O efeito do câmbio é reduzido para empresas exportadoras que também importam. Ao comprar do exterior a um dólar barato, acabam tendo seus custos reduzidos. É o caso da Embraer, que têm um bom equilíbrio entre o gasta e o que recebe na moeda estrangeira. Além da fabricante de aeronaves, outras empresas de alta tecnologia têm um coeficiente de importação muito alto, segundo Rossi, do Ibmec-RJ, mas na maioria das vezes a compensação não é total.
Dólar deve seguir baixo
Para os especialistas, a situação não deve mudar tão cedo. Na avaliação de Reynaldo Passanezi, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), o Brasil ainda terá que conviver por um bom tempo com as atuais taxas de câmbio. “Se os EUA não elevarem as taxas de juro, o dólar continuará baixo, e não há sinais de que o país irá mexer nas taxas de juros”.
“Eu acredito que a taxa de câmbio vai ficar baixa por um tempo. Não vejo tendência de mudança neste momento,” concorda Santos, da PUC-SP.
Isso não quer dizer, entretanto, que o cenário é totalmente confortável para as empresas que têm dívidas em dólares. Apesar de verem seus débitos reduzidos no curto prazo, elas não estão livres de riscos. “Se uma acontecer uma crise e o dólar disparar, a empresa quebra,” afirma Matias, da USP.
Toma lá, dá cá
O efeito do câmbio é reduzido para empresas exportadoras que também importam. Ao comprar do exterior a um dólar barato, acabam tendo seus custos reduzidos. É o caso da Embraer, que têm um bom equilíbrio entre o gasta e o que recebe na moeda estrangeira. Além da fabricante de aeronaves, outras empresas de alta tecnologia têm um coeficiente de importação muito alto, segundo Rossi, do Ibmec-RJ, mas na maioria das vezes a compensação não é total.
Já as multinacionais que atuam no Brasil “vivem no melhor dos mundos”, diz Santos. “Elas têm maiores facilidades de captar recursos lá fora a uma taxa menor e fazer investimentos aqui. Isso as coloca em vantagem em relação às empresas nacionais,” afirma.
(Colaborou Claudia Facchini, iG São Paulo)
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