"É uma questão de vida ou morte", disse Weheleey Osman Haji, uma mulher de 33 anos, mãe de seis filhos.
O bebê nasceu sob uma acácia perto de Liboi, um povoado na fronteira entre o Quênia e a Somália.
"Havia uma seca... tínhamos caminhado 22 dias tomando só água. Desde que dei à luz ao bebê não comi nada. Preciso de comida, vida, água e refúgio, tudo o que um ser humano precisa", afirma.
Há muitas outras mães como Weheleey. Uma delas contou que deixou seu filho doente num lado do caminho porque ele estava muito fraco para seguir viagem até o Quênia.
Angustiada pela responsabilidade com seus outros filhos pequenos, deixou-o no deserto.
"Seus olhos todavia me perseguem", disse.
Rukiyo Maalim Noor também esteve viajando nos últimos 20 dias. Tinha um bebê de um mês.
"Simplesmente fomos embora. Não podíamos ficar pela seca. Não havia comida, nada que dar às crianças."
Coração despedaçado
O nome de Isha se traduz por "vida".
Mohammed Abdi também estava entre aqueles que decidiram fazer o percurso até o Quênia.
"Comecei minha viagem em 18 de junho. A maior parte de minha família está na mata também, buscando uma rota até o campo de refugiados de Dadaab. Outros já estão aqui."
"É irônico. Agora que há uma paz relativa na Somália, continuamos fugindo. É devido à seca. Perdemos tudo, exceto estes dois camelos. Não há motivo para ficar."
Abdi, sua esposa e seus filhos, estavam há uns 80 km de Dadaab, o maior campo de refugiados do mundo.
"Me parte o coração ver meus filhos sofrerem. Mas que posso fazer? Eu tentei."
Quando contamos a Abdi que a milícia islamita Al Shabab aceitou permitir que algumas organizações humanitárias levem ajuda à Somália, ele se mostrou cético.
"Eles nos detiveram no caminho e nos disseram que voltássemos. Disseram que era melhor morrer em nossa pátria. Queriam que rezássemos para que chegasse a chuva", diz Abdi.
Desafio
Muitos dos refugiados que chegam a Dadaab o fazem através do povoado fronteiriço de Liboi.
Mais de uma centena usam rotas não oficiais por medo de serem devolvidos pelo governo do Quênia.
A fronteira entre o Quênia e a Somália foi fechada oficialmente no início de 2008 para evitar que as milícias somalis entrassem no país por meio da larga e porosa linha que separa os dois países.
Todavia, o Comissário de Distrito do Quênia, Bernard Ole Kipuri, disse que seu país, como signatário de tratados internacionais, não pode rechaçar pessoas que estejam buscando ajuda.
O desafio é identificar àqueles que passam o limite por postos fronteiriços sem vigilância.
Alguns líderes locais creem que os carteis dentro da Somália estão explorando a situação cobrando dos refugiados pela viagem até os acampamentos.
Esses refúgios para os quais fogem estão superpovoados e as organizações de ajuda afirmam que já estão no limite.
Uma vez no acampamento pode levar de sete a doze dias para receberem a primeira ração de comida.
Os três acampamentos em Dadaab acolhem mais de 370.000 refugiados, muito além de sua capacidade formal de acolher só 90.000.
Anne Mwathe / BBC
Tradução: Sonia Amorim
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