Do Blog de Rosivaldo Toscano Jr.
Audiência em Mogi das Cruzes, SP. Tratava-se de um caso de interdição – um procedimento para averiguar se alguém é ou não doente mental, geralmente com a finalidade de obtenção de aposentadoria.
Chega então o interditando, um sujeito velho e magro, olhos esbugalhados e com uma barba branca cobrindo o pescoço. Visando averiguar a sanidade mental dele, o colega começou a perguntar o de praxe:
- Qual o nome do senhor?
- É Manuel, doutor.
- Qual a sua idade e mora com quem?
- Tenho 64 anos e moro com minha filha – e apontou para uma quarentona que sentava ao seu lado.
- Costuma ir ao supermercado, seu Manuel?
- Sim. Costumo ir com certa freqüência e geralmente compro pães, outros produtos alimentícios e de higiene pessoal – disse com desenvoltura o idoso.
- Quem é o prefeito de sua cidade? E o presidente do Brasil?
- O prefeito é o fulano de tal e o presidente é o Lula – respondeu enquanto acariciava a própria barba.
- Quem está melhor no campeonato paulista? – perguntou, já franzindo a testa.
- É o Santos, doutor. Meu time do coração.
Foi então que o colega parou um pouco e começou a se perguntar: cadê problema nesse camarada, meu Deus? O homem parece completamente normal!
Resolveu dar uma olhada mais detida nos autos. E viu, para sua surpresa, que o laudo dizia que aquele mesmo senhor já havia passado trinta anos num manicômio judiciário. “Esquizofrenia paranóide”, apontava lá. O colega então respirou fundo e continuou:
- Seu Manuel, estou vendo aqui que esteve preso durante um tempo, não foi? – Perguntou em tom de tranqüilidade.
- Foi.
- Trinta anos lá no hospital, não foi?
- Foi – respondeu com trivialidade.
- O que aconteceu, senhor Manuel?
- É que armaram pra mim, doutor.
- E o que ocorreu?
- Ocorreu o seguinte: o delegado tentou me matar porque eu era o dono da delegacia.
- O senhor era o quê?
- Dono da delegacia. Eu tinha um boteco e mais quatro delegacias, inclusive uma em Guarulhos. E tem mais uma coisa.
- O quê?
O velho então inclinou o corpo na direção do juiz e, em tom de segredo, completou convictamente:
- Não fala pra ninguém, mas eu sou o pai do Silvio Santos. Conhece? O do programa de TV.
- Tá bom, seu Manuel. Conheço seu filho sim – respondeu o juiz, controlando a vontade de rir. Como já estava satisfeito àquela altura, apenas perguntou se o digitador da audiência inseriu no termo de audiência os absurdos ditos pelo interditando. Em seguida agradeceu ao seu Manuel pela presença, marcou a data da audiência de instrução e julgamento e dispensou todos.
Eis que o velho já ia saindo da sala acompanhado da filha quando se virou e disse:
- Ia esquecendo uma coisa importante, doutor! – falou com ar de preocupação.
- Pois não, seu Manuel, o que foi? – perguntou o juiz, intrigado.
Novamente em tom de segredo o interditando deu alguns passos, aproximou-se do birô do juiz e confidenciou em voz baixa:
- Eu também sou dono do banco Itaú!
Audiência em Mogi das Cruzes, SP. Tratava-se de um caso de interdição – um procedimento para averiguar se alguém é ou não doente mental, geralmente com a finalidade de obtenção de aposentadoria.
Chega então o interditando, um sujeito velho e magro, olhos esbugalhados e com uma barba branca cobrindo o pescoço. Visando averiguar a sanidade mental dele, o colega começou a perguntar o de praxe:
- Qual o nome do senhor?
- É Manuel, doutor.
- Qual a sua idade e mora com quem?
- Tenho 64 anos e moro com minha filha – e apontou para uma quarentona que sentava ao seu lado.
- Costuma ir ao supermercado, seu Manuel?
- Sim. Costumo ir com certa freqüência e geralmente compro pães, outros produtos alimentícios e de higiene pessoal – disse com desenvoltura o idoso.
- Quem é o prefeito de sua cidade? E o presidente do Brasil?
- O prefeito é o fulano de tal e o presidente é o Lula – respondeu enquanto acariciava a própria barba.
- Quem está melhor no campeonato paulista? – perguntou, já franzindo a testa.
- É o Santos, doutor. Meu time do coração.
Foi então que o colega parou um pouco e começou a se perguntar: cadê problema nesse camarada, meu Deus? O homem parece completamente normal!
Resolveu dar uma olhada mais detida nos autos. E viu, para sua surpresa, que o laudo dizia que aquele mesmo senhor já havia passado trinta anos num manicômio judiciário. “Esquizofrenia paranóide”, apontava lá. O colega então respirou fundo e continuou:
- Seu Manuel, estou vendo aqui que esteve preso durante um tempo, não foi? – Perguntou em tom de tranqüilidade.
- Foi.
- Trinta anos lá no hospital, não foi?
- Foi – respondeu com trivialidade.
- O que aconteceu, senhor Manuel?
- É que armaram pra mim, doutor.
- E o que ocorreu?
- Ocorreu o seguinte: o delegado tentou me matar porque eu era o dono da delegacia.
- O senhor era o quê?
- Dono da delegacia. Eu tinha um boteco e mais quatro delegacias, inclusive uma em Guarulhos. E tem mais uma coisa.
- O quê?
O velho então inclinou o corpo na direção do juiz e, em tom de segredo, completou convictamente:
- Não fala pra ninguém, mas eu sou o pai do Silvio Santos. Conhece? O do programa de TV.
- Tá bom, seu Manuel. Conheço seu filho sim – respondeu o juiz, controlando a vontade de rir. Como já estava satisfeito àquela altura, apenas perguntou se o digitador da audiência inseriu no termo de audiência os absurdos ditos pelo interditando. Em seguida agradeceu ao seu Manuel pela presença, marcou a data da audiência de instrução e julgamento e dispensou todos.
Eis que o velho já ia saindo da sala acompanhado da filha quando se virou e disse:
- Ia esquecendo uma coisa importante, doutor! – falou com ar de preocupação.
- Pois não, seu Manuel, o que foi? – perguntou o juiz, intrigado.
Novamente em tom de segredo o interditando deu alguns passos, aproximou-se do birô do juiz e confidenciou em voz baixa:
- Eu também sou dono do banco Itaú!
Nenhum comentário:
Postar um comentário