Amália Safatle no Terra Magazine
De São Paulo
De São Paulo
A notícia, dada a magnitude do número, não deixou escapatória à mídia senão publicá-la em tons bombásticos. Sim, atingimos ontem os 7 bilhões, rumamos para os 10 bi até o fim do século e tal escala soa explosiva demais para não se colocar na população o foco do drama ambiental do planeta Terra.
O aumento populacional - ainda que em crescimento desacelerado por conta da urbanização, da melhoria na educação e do acesso a informação em vários países - tem um peso e tanto nessa equação. Mas nem por isso deve encobrir um fator primordial: o consumo. A quantidade de recursos naturais consumida e a forma pela qual estes são processados, consumidos e descartados são os grandes definidores do atual estado do mundo.
É fácil criticar a quantidade de filhos gerados em regiões pobres como as da África, da Ásia e do Nordeste brasileiro, por exemplo - que dependem essencialmente de braços numerosos para lidar com suas economias agrícolas - quando regiões ricas nos Estados Unidos, Europa e no próprio Brasil reduzem a quantidade de filhos, mas aumentam exponecialmente o consumo de bens, inclusive os mais supérfluos, e contribuem para manter em alta a emissão de gases poluentes, ocupando um espaço ecológico muito maior que o necessário para se levar uma vida de qualidade decente.
Assim, o foco do debate deve ser o consumo e a lógica do crescimento - essência dos modelos macroeconômicos que a maior parte do mundo adotou. Como manter a economia rodando, gerando e distribuindo riquezas, e ao mesmo tempo fazer com o estoque de recursos seja gerido de forma sustentável - esse é o nó da nossa civilização.
Apesar do imenso desafio de se criar um modelo em que a economia não seja movida simplesmente pelo aumento do consumo, há pouco debate sobre o tema. Existe todo um universo a explorar em termos de redesenho de modelos macroeconômicos que considerem a sustentabilidade na equação. Mas populações em crescimento e capazes de ampliar seu poder aquisitivo é tudo o que a economia mundial - ainda mais buscando formas de sair da crise - quer.
Ainda que se argumente que países com população em declínio, como Alemanha e Japão, continuam sendo dínamos econômicos (conforme artigo que li doForeing Policy, do autor Colum Lynch, reproduzido no Estadão de ontem), é preciso olhar esses dados com cuidado. Primeiro, porque população em declínio não significa que esses paísem não aumentem o consumo, e sim que o consumoper capita (e a pegada ecológica ) está crescendo. Segundo, porque a quantidade de habitantes vivendo dentro das fronteiras desses países nada tem a ver com o poder de alcance econômico dessas nacões, que processam grande matéria prima, recursos naturais e energia para atenderem a mercados sob sua zona de influência econômica - ou seja, mercados fornecedores e consumidores envolvidos em importações e exportações. E com populaçãocrescente e novos hábitos de consumo. Aí sim, estamos falando em um mundo globalizado e interligado.
Amália Safatle é jornalista e fundadora da Página 22, revista mensal sobre sustentabilidade, que tem como proposta interligar os fatos econômicos às questões sociais e ambientais.
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